A alimentação das crianças ainda gera muitas discussões acerca do que pode ou não ser oferecido, em qual idade ou de que forma, e um dos alimentos mais polêmicos é o mel: a Agência da Vigilância Sanitária (Anvisa) sugere o consumo a partir de 1 ano de idade, já o Ministério da Saúde não recomenda antes dos 2 anos, pois se trata de um alimento rico em açúcares, predominantemente a frutose e glicose, o que pode prejudicar a apresentação alimentar, desencorajando a aceitação de alimentos com sabores que tendem ao amargo ou azedo.
Além disso, o mel oferece o risco de contaminação por uma bactéria associada ao botulismo (Clostridium botulinum), que pode causar sintomas gastrointestinais e neurológicos, principalmente em crianças menores de 1 ano, uma vez que elas ainda não têm a flora intestinal totalmente formada. Muitas famílias que levam seus filhos no meu consultório também questionam sobre o fato de não ser um alimento “vegan friendly”. Não, não é! As abelhas não produzem mel para o consumo humano. Desde a coleta do néctar até a produção do mel, existe um longo percurso e muito trabalho coletivo entre as abelhas que, posteriormente, sofrem com o fumegador, equipamento usado para produzir uma fumaça que as deixa desnorteadas e incapacitadas de atacar o apicultor durante a extração do mel. Elas sofrem, se contorcem asfixiadas pela fumaça.
E melado, pode?
Obtido do caldo concentrado de cana-de-açúcar ou da rapadura derretida, o melado é considerado um alimento puro (é livre de aditivos químicos), além da vantagem de preservar os nutrientes da cana, o que faz do melado um adoçante com valor nutricional superior ao açúcar refinado. De acordo com a Tabela Brasileira de Composição de Alimentos (2011), em 100 g de melado são encontrados 5,4 mg de ferro, batendo os 0,1 mg presentes na mesma quantidade de açúcar refinado e os 0,3 mg do mel. Mas ainda não sabemos o tipo de biodisponibilidade desse mineral, ou seja, o quanto do ferro do melado é aproveitado pelo organismo. São necessários mais estudos, pois, além de nutritivo (o melado tem ainda uma boa dose de cálcio, magnésio e outros componentes que auxiliam na manutenção da saúde óssea), é feito de maneira artesanal e tem baixo custo.
Mas, assim como o mel, o melado deve ser incluído na alimentação das crianças somente após o 2º ano de vida pelos mesmos motivos do alimento produzido pelas abelhas: o forte poder adoçante pode prejudicar o processo de apresentação alimentar, escondendo o real sabor dos alimentos, o que dificulta a aceitação de verduras e legumes e a construção de outros hábitos alimentares saudáveis. Mesmo depois dos 2 anos, o melado deve ser consumido com moderação, apenas para adoçar sucos de frutas mais azedas, como limão ou maracujá, ou em receitas em substituição ao açúcar, mas sempre em pequenas quantidades para que a criança possa reconhecer o sabor natural dos alimentos, e aprender a consumi-los com o mínimo de doce possível!
Melhor esperar os 5 anos
Particularmente, não sou adepta a indicar nenhum tipo de açúcar para as crianças mesmo após completar o 2º ano, sendo que qualquer tipo de bebida adoçada com açúcar ou adoçante, aromatizada ou com cafeína deve ser totalmente evitada nos 5 primeiros anos de vida, de acordo com a Organização Nacional de Saúde e Nutrição, nos Estados Unidos. Até que se complete 2 anos de idade, é muito importante que os pais e familiares entendam que não devem oferecer preparações caseiras que contenham açúcar como ingrediente, e que frutas e bebidas também não podem ser adoçadas com nenhum tipo de açúcar, mesmo mel ou melado, açúcar mascavo, demerara, açúcar de coco, xarope de milho ou rapadura.
Sucos de caixinha, pães do tipo bisnaguinha, biscoitos, bolos prontos e outros produtos ultraprocessados também contêm grande quantidade de açúcar, e nem sempre esse ingrediente é rotulado como tal. Expliquei aqui como identificar o “açúcar escondido” nos rótulos, assim como os perigos que ele representa para o desenvolvimento e bem-estar das crianças.
Os malefícios do açúcar
Há diversas razões pelas quais recomendo os pais aguardarem além dos primeiros 2 anos de vida para incluir qualquer tipo de açúcar na alimentação dos filhos. Estudos realizados pela Universidade Federal do Mato Grosso, mostraram que, entre vários malefícios, o açúcar estimula a expressão de componentes inflamatórios no sistema nervoso central, podendo atingir uma área do cérebro responsável, principalmente, pela memória. Nervosismo, agitação, sono ruim e alimentação inadequada são outros sintomas relacionados à ingestão de açúcar por crianças, além de submetê-las a diversos fatores de risco cardíaco, como obesidade, diabetes, hipertensão arterial e aumento nos níveis de colesterol. Segundo a Associação Americana do Coração, crianças e adolescentes devem consumir menos de seis colheres de chá de açúcar adicionados por dia, e reforçam que os menores de 2 anos não devem ingerir nenhum tipo de alimento que tenha sido acrescentado açúcar.
3 receitas doces com melado
Recomendo oferecer, de preferência, após os primeiros 5 anos (e nunca antes dos primeiros 2 anos de vida)
Pudim de chia
Ingredientes
2 xícaras (chá) de leite de coco
2 colheres (sopa) de semente de chia
Frutas a gosto (morango, maçã, berries)
1 colher (chá) de melado de boa procedência
Modo de fazer
Hidrate a chia hidratada com o leite vegetal por 12h. Acrescente o melado e, em seguida, transfira para dois copinhos, enchendo-os até a metade. Coloque a mistura na geladeira e aguarde 24h, na hora de servir, acrescente a fruta escolhida e higienizada.
Sobremesa de chocolate
Ingredientes
4 colheres (sopa) de abacate bem maduro amassado
1 colher (sopa) de cacau em pó orgânico (sem açúcar!)
1 colher (sopa) de quinoa em flocos
1 colher (sobremesa) de melado
Modo de fazer
Misture todos os ingredientes e sirva.
Iogurte fermentado
Ingredientes
3 xícaras (chá) de castanha de caju crua
3 xícaras (chá) de leite vegetal
2 colheres (sopa) de melado
2 colheres (sopa) de kefir de água
Modo de fazer
Deixe as castanhas de molho por pelo menos 8h. Despreze a água.
Em seguida bata todos os ingredientes no liquidificador até que forme uma mistura homogênea. Despeje em um recipiente e cubra com um pano ou voal (tecido fininho). Deixe o iogurte fermentar de 12 a 24h, protegido da luz solar direta. Receita da Sociedade Vegetariana Brasileira
