AÇÚCAR

AÇÚCAR ANTES DOS 5 ANOS: SIM OU MELHOR NÃO?

Saiba quando e quanto é mais seguro (ou menos ruim) oferecer açúcar para as crianças


LUNA AZEVEDO* | Apr 26, 2021

Antes de tudo, uma pergunta: você sabe o que é açúcar de adição? Do ponto de vista da ciência da nutrição, existem dois tipos de açúcar: os encontrados naturalmente nos alimentos, como a frutose e a sacarose presentes nas frutas, e aqueles extraídos da cana-de-açúcar e da beterraba, usados em preparações caseiras e na elaboração de alimentos industrializados. O segundo tipo refere-se ao açúcar de adição, muitas vezes consumido e oferecido às crianças a partir de sucos artificiais, biscoitos e balas, entre diversos outros produtos. Elas adoram!  

A resposta primária ao sabor doce, inicialmente, é positiva: faz com que o leite materno (adocicado devido a presença de lactose) seja aceito com facilidade. Porém, mais tarde, na fase de apresentação alimentar (como prefiro chamar a introdução alimentar), quando os bebês devem ser expostos a novos sabores para criarem hábitos e padrões alimentares que, provavelmente, irão perdurar por toda vida, é importante que os pais evitem oferecer alimentos e bebidas com açúcares de adição e, assim, encorajar os filhos a aceitarem sabores amargos e azedos.

Sem bebidas adoçadas 

A Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Dietary Guidelines for Americans (2020-2025) orientam que as crianças sejam apresentadas aos açúcares livres só a partir dos 2 anos, e numa porção pequena: menos de 10% da ingestão energética diária total. A American Heart Association sugere um limite ainda menor: até 5%, o que é possível priorizando a comida de verdade, sem o consumo de ultraprocessados, especialmente bebidas.

Qualquer tipo de bebida adoçada com açúcar ou adoçante, aromatizada ou com cafeína deve ser totalmente evitada nos 5 primeiros anos de vida, de acordo com a Organização Nacional de Saúde e Nutrição, nos Estados Unidos. A medida tem como objetivo reduzir o número de crianças obesas, problema que cresce a cada ano no mundo todo, sendo que o Brasil é um dos países mais afetados.

No Mapa da Obesidade, organizado pela Abeso (Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica), 12,9% das crianças brasileiras entre 5 e 9 anos estão obesas. Fatores genéticos, fisiológicos e metabólicos contribuem para ganho exagerado de peso, mas o forte crescimento da obesidade no público infantil está mais relacionado aos hábitos alimentares ruins, ou seja, consumo excessivo de produtos açucarados, geralmente combinados a gorduras ruins; somados a mais um agravante: estilo de vida sedentário. 

Mais perigos dos alimentos açucarados

Como se não bastasse, o açúcar está associado a outros riscos à saúde das crianças. Conforme informações do documento Sugar Intake for Adults and Children, da OMS, o consumo elevado de açúcar associado à alimentação desbalanceada, aumenta o perigo de doenças cardiovasculares e alguns tipos de câncer. Pesquisadores alertam ainda para o risco de diabetes tipo 2, síndrome metabólica e doença hepática gordurosa não alcoólica, além da cárie dentária.

Como treinar o paladar dos pequenos

Não é fácil treinar o paladar dos pequenos para alimentos menos doces, mas é possível. Os pais (principais responsáveis na formação do primeiro padrão alimentar da criança) precisam estabelecer bases para a criação de hábitos e preferências alimentares. Então sugiro algumas recomendações para que esse processo possa ser saudável e harmônico:

Açúcar só depois dos 2 anos, e com restrições 

O Guia Alimentar para Crianças Menores de 2 Anos, do Ministério da Saúde, e o Manual de Alimentação da Sociedade Brasileira de Pediatria, não recomendam açúcares (inclusive mel, melado e rapadura) antes dos 2 anos. Até essa idade, não há necessidade do consumo de doces e demais alimentos ultraprocessados, segundo a OMS e o Guia de Alimentação para Bebês e Crianças Vegetarianas, da Sociedade Vegetariana Brasileira. Lembre-se: uma alimentação saudável e adequada na primeira infância, aumenta as chances de a criança se tornar um adulto consciente e autônomo para fazer boas escolhas alimentares.

  Atenção: investigue o açúcar escondido.

Nem sempre o rótulo traz uma descrição clara sobre o açúcar presente num produto, por isso, verifique outros nomes usados para ele: Dextrose, Sacarose, Xarope de frutose, Xarope de glicose, Maltodextrina, Glucose, Maltose, Xarope de malte. Evite todos!

  Aposte na variedade e insista na repetição dos alimentos.  

No segundo ano de vida, a criança costuma resistir a novos alimentos e recusar aqueles que gostava anteriormente, mas não é permanente. A aceitação pode melhorar com a oferta repetida ou com a modificação das formas de preparo. Para aceitar um novo alimento, a criança precisa experimentá-lo, pelo menos, de 8 a 10 vezes. Ainda no primeiro ano de vida, é bom não misturar os alimentos, pois impede que a criança tenha a oportunidade de conhecer os novos sabores e texturas. Atenção: uma boa qualidade nutricional nessa fase é importante para a massa óssea, muscular e tecidual, assim como para os órgãos altamente metabólicos (trato gastrointestinal, o sistema imunológico, o sistema nervoso central, o sistema cardiorrespiratório e os rins).

  Seja espelho para seu filho

Os hábitos familiares influenciam no comportamento social e alimentar da criança, pois há uma busca por identificação entre pais e filhos. Portanto, mais do que falar, dê exemplos saudáveis e sustentáveis dentro de casa. Assim, as relações de afeto, segurança e nutrição vão estar sempre presentes no desenvolvimento integral da criança.