dia mundial de combate ao câncer

ALIMENTAÇÃO PLANT-BASED TEM AÇÃO PROTETORA CONTRA O CÂNCER, CONFIRMAM ESTUDOS

A cada nova pesquisa, a ciência tem mais certeza dos benefícios dos vegetais


Eliane Contreras | Feb 04, 2021

Pode parecer exagerado dizer que a alimentação aumenta ou diminui a incidência de câncer, assim como doenças degenerativas, inflamatórias, infecciosas, metabólicas e vasculares. Porém, a ciência confirma a cada novo estudo a relação entre aquilo que comemos e a nossa saúde. Organizações internacionais e o Instituto Nacional do Câncer (Inca) atestam que 35% de todos os tipos de câncer existentes no mundo são gerados pela alimentação. Autor do livro Alimentação na Geração e Cura das Doenças (editora Orion), lançado no final de 2020, o médico Dirceu de Lavôr, professor e presidente do Instituto de Ensino e Pesquisa em Saúde (IEPS), em Recife, reuniu na publicação mais de cinco mil estudos científicos sobre os efeitos dos alimentos no organismo e vários deles alertam para o aumento de câncer na população mundial provocado pelo excesso de carne vermelha e produtos refinados, industrializados e ultraprocessados. "Estima-se que, atualmente, cerca de 75% da dieta ocidental seja composta de vários alimentos processados, o que implica no consumo anual de 3 a 4 quilos (ou mais) de aditivos alimentares por pessoa. Ou seja, corantes potencialmente cancerígenos e outros elementos químicos destrutivos são consumidos de forma inconsequente”, alerta o médico.

A boa notícia é que a ciência também se debruça em pesquisas sobre o consumo de alimentos mais naturais, como frutas, legumes e vegetais, e os resultados são animadores. O próprio médico, há mais de 30 anos um estudioso sobre alimentação, destacou seis conclusões científicas publicadas no livro, a pedido da VegMag, que afirmam o poder da alimentação plant-based e de alguns alimentos específicos na prevenção e combate ao câncer. 

Consumo excessivo de carne aumenta o risco do câncer de pâncreas

Este estudo é um alerta para aqueles que consomem muita carne e dá pouca importância para os vegetais. Após avaliarem 20 estudos de países diferentes sobre alimentação e câncer, pesquisadores poloneses concluíram, em artigo publicado em 2012, que o excesso de carne vermelha é um dos hábitos nutricionais de maior influência para o surgimento do câncer de pâncreas. Por outro lado, confirmaram que os vegetais e as frutas (especialmente as cítricas) contêm elementos capazes de proteger a saúde do pâncreas, Fibras, vitamina D e ácido fólico, presentes em boa quantidade nas dietas vegetarianas, também são agentes com o poder de combater os carcinógenos (substâncias responsáveis pela alteração das células), segundo os pesquisadores. “Não há dúvida: adotar um modelo de alimentação que prioriza verduras, legumes, grãos e frutas pode ser considerada uma estratégia nutricional atraente para a prevenção do câncer de pâncreas”, diz dr. Dirceu.

Os efeitos positivos das frutas e hortaliças destacados pelos pesquisadores: 

1.Vegetais verde-escuro, verde-claro, amarelo-laranja, crucíferos, verduras, legumes apresentam uma possível ação protetora no pâncreas.

2.Fumantes podem obter um efeito protetor ainda maior no órgão com o consumo de vegetais verde-escuros.

3.Tipos variados de couve oferecem ajuda significativa na redução do risco de câncer de pâncreas.

4.As frutas cítricas parecem capazes de diminuir o risco de câncer de pâncreas em até 30%; resultado semelhante aos obtidos em relação à diminuição do risco de câncer de pulmão e de câncer renal. Tudo indica que esse efeito positivo tem ligação com as concentrações altas de ácido ascórbico e b-cryptoxantin, pigmento carotenoide natural existente nas frutas cítricas.

5.O consumo de frutas em geral reduz o risco do tumor em até 29%.

Quanto mais vegetais maior a proteção contra o câncer de endométrio

Em um estudo de 2017, pesquisadores italianos avaliaram o impacto positivo da dieta mediterrânea no câncer de endométrio. Foram recrutadas 297 mulheres que haviam recebido diagnóstico recente do tumor e 307 controles do norte da Itália. Usando a regressão logística, os pesquisadores avaliaram o papel do consumo de frutas e hortaliças, a adesão à dieta mediterrânea e o índice inflamatório dietético no risco de câncer endometrial. Os resultados mostraram que as mulheres que tinham o hábito de priorizar os vegetais estavam duas vezes mais protegidas que aquelas com baixa adesão à dieta mediterrânea. “Os resultados sugerem que o consumo farto de vegetais, adesão à dieta mediterrânea e, consequentemente, baixo índice inflamatório estão relacionados a um menor risco de câncer endometrial”, compara o médico. 

Cardápio pobre em frutas aumenta o perigo para o câncer de esôfago

Comer frutas e verduras em pouca quantidade diminui a função protetora desses alimentos no organismo e traz um resultado inverso: aumenta o risco do câncer de esôfago e alguns outros tipos de tumor, segundo estudo de 2016 realizado por pesquisadores chineses. Em países bem desenvolvidos economicamente, a incidência da doença aumentou bastante nos últimos 40 anos e o refluxo gastroesofágico é apontado como a principal causa, provavelmente desencadeada por uma alimentação rica em produtos industrializados. Ou seja, nesses países as pessoas comem cada vez menos vegetais e mais ultraprocessados. Carne vermelha, carne processada e bebida alcoólica, por exemplo, estão diretamente relacionadas ao câncer de esôfago. Diminuição dos fatores de risco, detecção precoce e tratamento de lesões pré-cancerosas são fundamentais na prevenção da doença, segundo os pesquisadores. O médico Dirceu de Lavôr acrescenta outras medidas importantes: “Parar de fumar (para quem tem esse vício), evitar o consumo excessivo de álcool, carne e calorias, aumentar o consumo frequente de vegetais e frutas e abandonar o sedentarismo.”

Morango e framboesa previnem pelo menos três tipos de câncer

Quem não tem o hábito de comer frutas vermelhas, precisa muito saber: elas oferecem grande ação protetora. O ácido elágico presente no morango e na framboesa, por exemplo, é capaz de neutralizar componentes cancerígenos, como o N-nitrosometilbenzilamina (NMBA), associado ao câncer de esôfago, segundo estudos realizados com o extrato de ambas as frutas. Outros estudos afirmam que o ácido elágico também contribui para a prevenção de dois outros tipos de câncer: cólon e pâncreas.  

Cúrcuma tem poder inegável contra a doença

Não faltam estudos comprovando a ação anticancerígena da cúrcuma ou açafrão-da-terra. Esse poder se deve especialmente aos curcuminóides, elementos bioativos da curcumina, principal composto do rizoma de amarelo intenso. A curcumina apresenta várias outras atividades farmacológicas, entre elas propriedades antitrombóticas, hipocolesterolêmicas e antioxidantes. Os tipos de câncer que a substância previne e  combate com maior eficiência: estômago, intestino, cólon, pele e fígado. “Os efeitos anticancerígenos da curcumina parecem estar ligados à sua capacidade de bloquear certos processos ligados à sobrevida das células cancerosas que as tornam imunes à apoptose (morte das células modificadas), bem como de impedir a formação de novos vasos sanguíneos nos tumores, privando-os, assim, de sua fonte de energia”, conclui dr. Dirceu.

E brócolis? Também tem efeito comprovado contra o câncer

O sulforafano é um dos isotiocianatos (subprodutos dos brócolis) mais estudados no momento. Já está comprovado, por exemplo, que a substância impede a proliferação da células tumorais e apresenta efeito protetor contra o câncer em vários órgãos (pulmões, esôfago, glândula mamária, próstata, fígado, intestino delgado, cólon e bexiga). Além de grande potencial quimiopreventivo, antiproliferativo, anti-inflamatório, antioxidante e anticancerígeno, influencia todas as fases da carcinogênese. “A capacidade de modular o metabolismo dos carcinógenos também é atribuída ao sulforafano, assim como a diminuição do risco de mutação das moléculas de DNA”, explica o médico. Tem mais: o sulforafano induz a morte das células doentes e a parada do ciclo celular, como o das células do câncer de mama. Nossa sugestão: coma mais brócolis, cúrcuma, frutas vermelhas...

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