Clássico no mundo da moda, o couro animal ainda é cobiçado por muitos consumidores e utilizado por grandes empresas por ser um material durável, mas o impacto ambiental provocado pela produção desse tecido não é nada sustentável. Após o abatimento do animal, a pele é levada para uma fábrica de curtume e, para evitar que entre em decomposição, é submetida a componentes químicos tóxicos – o cromo está entre os mais utilizados e os mais nocivos, prejudicando a saúde dos trabalhadores que manuseiam a substância todos os dias. O solo e os rios próximos também ficam comprometidos. Não é só isso. A quantidade de água usada nos curtumes é desproporcional e anti-ecológica: são necessários 17 mil litros para tratar 1 kg de couro bovino, segundo dados da Water Footprint Network.
Apesar de alternativa cruelty-free ao material de origem animal, o couro sintético não é uma solução adequada para o meio ambiente. Feito à base de plástico, demora para se decompor. Por isso as marcas com responsabilidade sócio-ambiental estão empenhadas em buscar opções que não deixem vestígios na natureza, segundo Breno Abreu, docente da Universidade Federal de Goiás, especialista Biodesign e fundador do projeto BioStudio. “Ainda faltam incentivos fiscais para que os tecidos ecológicos se tornem mais acessíveis e rentáveis, mas algumas marcas já iniciaram a produção com alternativas veganas e sustentáveis. E, felizmente, boa parte dos consumidores está atenta a isso”, diz Breno.
BIOMATERIAIS
"Couro" de kombucha
Desenvolvido pela empresa carioca Biotecam, o Texticel é elaborado a partir de um conjunto de fungos e bactérias denominado como scoby, proveniente da produção de kombucha – bebida fermentada à base de chás com cafeína. O desenvolvimento do tecido demora um mês, em média, sendo três semanas de cultivo e uma quarta para secagem e finalização. “O scoby resulta num tecido perfeito em maleabilidade e semelhança ao couro. Aliás, é minha opção preferida”, comenta Breno.
Foto: reprodução Biotecam
"Couro" de fungo
Desenvolvido pela marca alemã Nat-2, em parceria com a designer Nina Fabert, da Zvnder, é um couro feito à partir do Fomes fomentarius, um tipo de fungo encontrado em árvores. O material foi aplicado em um tênis da marca, totalmente vegano, ecológico, antisséptico e antibacteriano. Os outros materiais usados na confecção do calçado também são biodegradáveis: ecoalgodão, tipo de microfibra de camurça feito com garrafas PET recicladas, palmilhas de cortiça e sola de borracha.
Foto: reprodução Nat-2
"Couro" de coco
Cruelty-free, vegano e ecológico, o material batizado Malai foi criado pelos designers indianos, Susmith C. Suseelan e Zuzana Gombosova. Feito a partir de bactérias de celulose nascidas na água de coco – matéria-prima retirada de restos de cocos processados pela indústria alimentícia na Índia, o que torna esse tipo de couro 100% natural, contribuindo para redução do desperdício.
Foto: reprodução Malai Eco
MATERIAIS NÃO TÊXTEIS
“Couro” de maçã
Com o objetivo de criar um material com menor proporção de polivinil (PU), polímero à base de plástico, mas que se assemelhasse ao couro animal, a marca vegana canadense Samara, desenvolveu o couro de maçã. Foram vários testes até que chegassem a um material menos agressivo ao meio ambiente, mas que ainda precisa de uma pequena quantidade de PU para ser durável. De qualquer maneira, representa um ganho e tanto para a natureza.
Foto: Reprodução Samara
“Couro” de cacto
Com o nome Desserto, o couro é feito a partir do Opuntia ficus-indica, espécie de cacto resistente ao frio e com cultivo anual. O processo de produção, elaborado pelos empresários mexicanos Adrián López Velarde e Marte Cázarez, demanda menos recursos naturais e é livre de crueldade e químicos tóxicos. A matéria final pode ser agregada ao algodão ou poliéster reciclado, o que a torna parcialmente biodegradável, com durabilidade de até 10 anos. Pode ser usado pelas indústrias da moda, de móveis e de artigos de couro em geral. Graças à composição orgânica, é um material “respirável”, semelhante ao produto de origem animal.
Foto: Reprodução Desserto
Dicas na hora da compra
Nem sempre os materiais 100% ecológicos estão à disposição. “O acesso a matérias-primas alternativas ainda é difícil para muitas empresas por causa da falta de incentivos fiscais e também por questões político-financeiras que envolvem a indústria da pecuária. Além disso, a falta de conscientização da população em relação ao consumo da carne e derivados animais ajuda a manter o consumo de tecidos nada ecológicos", diz Breno, que dá algumas dicas do que você deve considerar na hora da compra:
.Adote o mantra menos é mais. Mesmo que o produto não seja totalmente vegano, invista na durabilidade da peça, gerando um menor consumo. Não há a necessidade de você ter cinco pares de sapato, se pode encontrar um que dure por mais tempo.
.Opte por marcas mais conscientes. Várias delas já estão mudando a linha produção visando as questões ambientais. Privilegie aquelas que também valorizam materiais menos agressivos ao meio ambiente, como o ecoalgodão.
.Crie o hábito de pesquisar. Procure saber se existe uma pequena empresa com produtos artesanais e ecológicos perto de você.
.Exercite a economia circular. Compre em brechós, troque roupas, sapatos e acessórios com seu grupo de amigos, desenvolvendo cada vez mais um consumo consciente.