Moda responsável

ADOTE A ‘MODA’ DO ALGODÃO ORGÂNICO

E MANTENHA SUA PELE A SALVO DO GLIFOSATO


Eliane Contreras | Jul 03, 2019

Roupa de algodão orgânico não é apenas uma tendência da moda, mas uma maneira de o consumidor não contribuir com o alto risco do agricultor que planta o algodão sofrer com os efeitos colaterais do glifosato — herbicida com potencial cancerígeno bastante usado nesse cultivo. Pior que não existe uma solução simples, muito menos rápida, para a overdose do defensivo agrícola.

Pesquisadores da Universidade Nacional de La Plata, na Argentina, constataram resíduos de glifosato em diferentes concentrações no ar, na chuva e nos alimentos. Mas o algodão ‘ganha’ disparado. “Os estudos não são conclusivos, mas alguns trabalhos mostram que o glifosato permanece no algodão, mesmo depois de tratado e transformado em tecido. Ou seja, usamos roupas, inclusive lençóis e toalhas, contaminadas pelo herbicida, que pode ser absorvido pela nossa pele”, alertou a nutricionista e pesquisadora Valéria Paschoal, no I Congresso Centro Oeste de Nutrição Funcional realizado em junho deste ano, em Brasília. Se a suspeita for confirmada, existe mais um motivo para o algodão orgânico deixar de ser tendência para virar uma escolha obrigatória.

Embora tímidas, as mudanças já começaram a acontecer. O cultivo de algodão orgânico no mundo cresceu 10% em 2018, comparado a 2017. Só no Brasil, os agricultores que abriram mão do glifosato passaram de 232 para 308, de acordo com o Relatório do Mercado de Algodão Orgânico (OCMR - Organic Cotton Market Report), produzido o ano passado pela ONG Textile Exchange. “Foi um crescimento significativo, mas ainda é pouco”, escreveu a jornalista Iara Vidal, no blog Consumo Consciente.

Representante, no Distrito Federal, do Fashion Revolution —movimento que mobiliza pessoas do mundo todo para atuar por uma indústria da moda mais justa, segura e transparente —, Iara informa mais: “Há muitos casos de sucesso na produção de algodão livre de herbicidas, mas eles não chegam nem perto do que precisamos para impactar o setor”. Conclusão: a possibilidade de 100% da produção de algodão passar a ser orgânica ainda está longe, mas as indústrias têxteis, daqui e lá de fora, assinaram o pacto de até 2030 usarem apenas algodão sustentável na produção de roupas.

Não é o melhor dos mundos, mas é menos ruim. “O algodão sustentável tem o uso de agrotóxico controlado e, por isso, não oferece risco ao agricultor e nem ao meio ambiente”, explica o engenheiro agrônomo Joelcio Carvalho, do Centro de Excelência da Fome/FAO. Mas o consumidor tem o poder de compra e, portanto, pode decidir se vai aceitar (tomara que não) um algodão não orgânico.

FORÇA PARA O BEM   

O movimento internacional Fashion Revolution atua no Brasil há 5 anos. Na
Semana Fashion Revolution, e ao longo do ano em eventos pontuais, são realizadas ações, rodas de conversa, exibições de filmes e workshops, que promovem mudanças de mentalidade e comportamento em consumidores, empresas e profissionais da moda. E, em qualquer momento do ano, qualquer pessoa pode participar da campanha #QuemFezMinhasRoupas, nas redes sociais. É só seguir o passo a passo:

1.Faça uma selfie com a etiqueta da marca que você está vestindo
2.Pergunte na legenda: @nomedamarca #QuemFezMinhasRoupas? #FashionRevolution
3.Poste e faça parte dessa revolução!

No site Fashion Revolution, a co-fundadora Orsola de Castro, comenta: “Essa ação incentiva os consumidores a imaginarem o ‘fio condutor’ do vestuário, passando pelo costureiro até chegar ao agricultor que cultivou o algodão que dá origem aos tecidos. Esperamos iniciar um processo de descoberta, aumentando a conscientização de que a compra é apenas o último passo de uma longa jornada que envolve centenas de pessoas, e realçando a força de trabalho invisível por trás das roupas que vestimos”.