COSMÉTICOS E SAÚDE

A QUÍMICA DOS COSMÉTICOS E OS NOSSOS HORMÔNIOS

SAIBA QUE INGREDIENTES EVITAR NA HORA DE COMPRAR.


DANIELA BERNARDI | May 02, 2019

Xampu e creme com mais emoliência, esmalte extra-brilho e batons à prova de beijo. Os produtos de beleza com múltiplos quesitos deixaram de ser as estrelas da indústria, que, felizmente, vem seguindo a tendência de linhas minimalistas e produção mais consciente. Ainda assim, a composição química dos cosméticos merece atenção do consumidor, já que algumas marcas (mesmo veganas) ainda recorrem a ativos químicos nocivos à saúde. Um deles pode estar no box do seu banheiro neste momento.

“Amplamente usado pela indústria cosmética em xampus, o parabeno é um ativo com moléculas similares à estrutura dos nossos hormônios e, por isso, capaz de confundir o organismo”, alerta a dermatologista Tatiana Gabbi, de São Paulo.

O mecanismo de ação segue o modelo chave-fechadura. “A molécula do parabeno (chave) se encaixa em um receptor (fechadura) do corpo e age como um disruptor endócrino — ou seja, inibe ou estimula a produção de hormônios, entre eles o estrogênio e a testosterona”, complementa a dermatologista. Em outras palavras: o componente “farsante” ocupa um espaço que não é dele e, então, desencadeia um desequilíbrio sistêmico na produção dos hormônios em diferentes partes do corpo, dos ovários à tireoide.

Ainda são poucas as pesquisas científicas sobre os efeitos negativos provocados pelo uso prolongado desses ativos químicos. Mas existem evidências de que eles não são inofensivos. “Estudos realizados em laboratório apontam danos provocados em tecidos in vitro”, afirma o endocrinologista Guilherme Renke, da Clínica Nutrindo Ideais, no Rio de Janeiro.  

Avaliações feitas na população também indicam uma ligação entre cosméticos e distúrbios hormonais. Uma delas, publicada na revista científica Environment International, comparou a quantidade de parabeno e benzonfenona na urina de 509 mulheres com a produção de hormônios. Não deu outra: a quantidade de estrogênio circulando na corrente sanguínea estava significantemente mais elevada nas participantes que utilizavam produtos com as substâncias químicas. Os estragos provocados por esse tipo de oscilação hormonal vão desde infertilidade e puberdade precoce a doenças graves. Só para citar algumas: “Os cânceres de mama e ovário têm correlação com os hormônios sexuais”, diz a dermatologista Luiza Archer, também do Rio de Janeiro. A saída? Recusar os produtos de beleza com substâncias duvidosas ou usá-los o mínimo possível — isto é, se você ainda tem alguns deles no seu necessaire.

Ok, passar um creminho com oxibenzona no rosto não chega a prejudicar a saúde, mas será que você só usa um creminho mesmo? “Ainda que a fórmula de um cosmético siga as exigências da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), é preciso lembrar que as pessoas costumam aplicar vários produtos ao longo do dia”, diz a dermatologista.

É muito fácil expor o organismo a uma quantidade excessiva de ativos químicos e abrir caminho para os desequilíbrios hormonais. A ciência ainda não sabe a quantidade considerada segura para essas substâncias, mas você sabe que com a saúde não se brinca! 

E OS PRODUTOS VEGANOS?

Quando o assunto é disruptor endócrino e, consequentemente, alterações hormonais, até mesmo os produtos veganos podem oferecer risco.

Alguns cosméticos cruelty-free e isentos de colágeno, leite e até mesmo mel e cera de abelha, podem carregar ativos sintéticos que desregulam os hormônios.

“A pele é um grande órgão que absorve muito bem as substâncias aplicadas nela, boas ou ruins”, diz Guilherme Renke. Então, independentemente de ser vegano ou não, a recomendação do especialistas é ler o rótulo e substituir o quanto antes os produtos de beleza com os seguintes ativos químicos: 

Parabeno

Algumas marcas veganas usam o parabeno no lugar do mel para evitar que xampus, hidratantes e loções fiquem suscetíveis à contaminação por fungos e bactérias. Mas não é nada bem-vindo para os hormônios nem para a pele. “O parabeno tem efeito cumulativo na pele, o que pode contribuir para o envelhecimento precoce e o aparecimento de dermatites”, afirma a nutricionista especializada em estética, Sheila Mustafá, de São Paulo. As fórmulas com óleos essenciais, como o de melaleuca, são boas substitutas.

Ftalatos

Além de garantir maleabilidade à embalagem, essas substâncias químicas ajudam a fixar a fragrância e a cor do produto. No caso dos esmaltes, a dica é comprar opções com “7-free” no rótulo – sinaliza que são produtos livres de ftalatos e outras substâncias alergênicas.

Metais pesados

Já está comprovado que metais pesados, como o chumbo e o alumínio, provocam uma série de alterações hormonais e outras doenças em pessoas que se expõe a eles. Por isso, evite batons e desodorantes com esses componentes danosos.

Oxibenzona

Presente em filtros solares químicos, esse componente se infiltra na célula de gordura e, então, interfere na produção de hormônios. Prefira protetores solares físicos que criam uma barreira sobre a pele – muitas bases e BB Creams funcionam assim, principalmente aquelas com cor. Você também reforçar o cuidado com a pele usando roupas e chapéu de tecido com proteção UVA/UVB.

Trietanolamina

Usado não só em cremes e perfumes, mas em detergentes ou como solvente de tintas látex, ceras… Provoca sensibilidade e irritação na pele, lesões hepática e renal. Os prejuízos também aparecem na pele: desidratação, redução da barreira de proteção e envelhecimento precoce.

O que você ainda deve observar, segundo Shelia Mustafá, na hora de comprar seu xampu ou qualquer outro cosmético:

1. Mínima quantidade de ingredientes, mas com funções específicas e atuantes

2. Fórmulas mais sofisticadas e eficientes

3. Textura simples e ativos multifuncionais e com alta concentração

4. Ética na produção e cruelty-free (sempre!)