BITUCA POLUI

SEM BITUCA NA RUA

FUMANTES, LEIAM, POR FAVOR: VIA PÚBLICA NÃO É CINZEIRO


Helen Almeida | Jun 26, 2019

Muitos fumantes têm o péssimo hábito de jogar o filtro do cigarro, a tal bituca, no chão. Triste, não? Com as campanhas públicas de combate ao cigarro, 40% dos brasileiros fumantes abandonaram o vício nos últimos 12 anos. Mesmo assim, o Brasil ocupa o oitavo lugar no ranking dos países com o maior número de fumantes, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Atualmente, são 18 milhões de brasileiros que fumam. Imagine o estrago se todos eles jogarem a bituca nas vias públicas todos os dias. Ok, não vamos generalizar: nem todo fumante se comportada dessa maneira. Mas a maioria sim:

60% dos fumantes têm o hábito de jogar a bituca no chão.

Esse dado é resultado de uma pesquisa feita pelo Mundo SEM Bitucas (MSB) — organização criada com o objetivo de alertar a população para a poluição provocada pelo descarte inadequado de bituca. O trabalho de conscientização é feito por meio de palestras, oficinas educativas, mutirões de limpeza, intervenções artísticas e ações nas redes sociais. 

Ativista e idealizadora do MSB, Natalia Zafra Goettlicher acredita que a mudança de comportamento depende de mais informação e um trabalho intenso de conscientização. “Muitas pessoas ainda não sabem os reais problemas acarretados pelo volume absurdo de bituca acumulado na natureza”, diz Natalia.

É importantíssimo que o fumante pare de pensar que “mais uma bituca no chão não vai fazer diferença”. Mas faz: “Não é apenas uma bituca, mas milhões delas descartadas diariamente em um único planeta habitável”, complementa a ativista.

O que talvez os fumantes também não tenham ideia é que 95% dos filtros dos cigarros são compostos por acetato de celulose e outros componentes plásticos de difícil degradação. "Alguns desses componentes demoram mais de cinco anos para desaparecer da natureza”, afirma Natalia. O acúmulo nas tubulações provoca entupimento e agrava as enchentes. Mas os prejuízos não ficam só nas cidades.

“As pontas de cigarro são uma das maiores fontes de poluição oceânica no mundo", diz a fotógrafa e ativista Bárbara Veiga. Cofundadora da Liga das Mulheres Pelos Oceanos e autora do livro Sete Anos em Sete Mares, ela explica que grande parte desse resíduo chega aos oceanos através dos bueiros e córregos. E, à medida que a bituca se desintegra, sobram microplásticos que são consumidos pelos animais marítimos. Pesquisadores encontraram detritos em 70% das aves marinhas e 30% das tartarugas marinhas. “É um lixo extremamente prejudicial para a vida marinha. Além disso, ocorre a liberação de toxinas que contaminam a água e o solo e os animais que ingerem essas substâncias nocivas.”

O dado de que a bituca está entre os maiores poluentes não é unânime. “Existe um grande estudo internacional que afirma esse dado, mas outras pesquisas mostram que o descarte e o acúmulo de resíduos nas praias dependem da cultura local, dos hábitos dos moradores e dos turistas visitantes", afirma Natalia. Mesmo assim não podemos fechar os olhos para os malefícios que a bituca provoca ao meio ambiente. 

AINDA É DIFÍCIL RECICLAR

O Brasil tem a primeira usina de reciclagem de bituca, a Poiato Recicla. Lá, todo filtro de cigarro coletado é transformado em papel. São cerca de 600 mil unidades coletadas mensalmente. Parece um volume enorme, mas não chega a 1% da quantidade de bituca produzida pelos fumantes brasileiros. De qualquer maneira, já é um começo. 

A Universidade Estadual Paulista (UNESP) de Botucatu também estuda a possibilidade de usar a bituca para a geração de plástico. Porém, não é fácil encontrar bituqueiras em locais públicos para o descarte e nem Ecopontos para receber o resíduo. Então fumantes, colaborem: carreguem um pequeno recipiente a tiracolo para colocar a bituca e, depois, jogá-la no lixo. É o que temos para hoje. Mas, assim que existirem programas de reciclagem mais efetivos, passe a descartar a bituca no recipiente específico para ela. O prejuízo para o planeta será bem menor.