Lançado pela Netflix, Seaspiracy: Mar Vermelho, é um documentário que traz à tona a crueldade do ser humano contra os oceanos e às vidas marinhas, e os prejuízos disso tudo ao meio ambiente e à nossa saúde. Dirigido e narrado pelo ativista vegano e amante do mar Ali Tabrizi, o filme de 90 minutos, que tinha como projeto inicial revelar as belezas das águas salgadas, ganhou um novo enfoque logo no início das gravações. Inconformado com o lixo descartado nas praias, o ativista resolveu investigar a responsabilidade da indústria da pesca nesse cenário e chegou ao seguinte número: quase 50% do plástico existente nos oceanos vem de utensílios (redes, cabos, linhas) perdidos na hora da captura dos peixes. Esse descaso, porém, é apenas a ponta do iceberg na degradação do mar, o maior reservatório de carbono do planeta.
Segundo o relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), da ONU, os oceanos absorveram mais de 90% do calor excessivo causado pelas mudanças climáticas. Ou seja, o desequilíbrio desses habitats pode trazer alterações rápidas na natureza: maré mais alta, nível dos oceanos subindo a cada ano e, com isso, catástrofes naturais mais frequentes. Conclusão: a vida na Terra pode ficar cada vez mais difícil, mas, segundo o documentário, nada está sendo feito para mudar a falta de regulamentação nos oceanos e o respeito às vidas marinhas.
Em países onde a pesca é intensa, inclusive a ilegal, Ali registrou uma série de crueldades. No Japão, ele e a esposa, sua parceira nas filmagens, se esconderam da polícia para conseguir filmar uma ação sanguinária contra golfinhos. Naquele país, eles ainda registraram a pesca criminosa do atum azul (espécie em colapso, restando um pouco mais de 3% ao redor do mundo); e foram impedidos de gravar num mercado de barbatana de tubarão (a sopa de barbatana é oferecida em muitos países asiáticos como sinal de status e, que, infelizmente, provoca desequilíbrio grave na cadeia alimentar da vida marinha). Em Taiwan, de carona no navio ativista Sea Shepherd, o casal acompanhou a ação dos tripulantes contra ataques bárbaros a baleias e outros tipos de pesca ilegal. Num outro momento, o documentário mostra que a criação de peixes em cativeiro também não é viável (muito menos saudável), e que o selo de certificação de “pesca sustentável” nem sempre é confiável.
Ali entrevistou especialistas, ambientalistas, ONGs e pessoas envolvidas na indústria pesqueira atrás de uma explicação para tanta crueldade, poluição e degradação do mar, mas as respostas não foram convincentes. A conclusão é óbvia: o consumo de peixe pelo ser humano não é sustentável para a natureza, não da maneira como a indústria pesqueira explora os oceanos, e ainda pode prejudicar nossa saúde, já que os peixes estão intoxicados de plástico e mercúrio. Parece que só existe uma saída: repensarmos nossos hábitos.