Com a pandemia, o tempo que crianças e adolescentes têm passado diante dos aparelhos eletrônicos (computador, tablete, celular, tevê) aumentou na mesma proporção que diminui o contato com a natureza. O impacto desse distanciamento do verde pode prejudicar a saúde física e emocional, especialmente no caso dos pequenos.
Organizado pela Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), em parceria com o Instituto Alana, o manual Benefícios da Natureza no Desenvolvimento de Crianças e Adolescentes, alerta também para os danos no desenvolvimento intelectual das crianças que não têm a oportunidade de realizar atividades em praças, parques, hortas ou mesmo no jardim ou área de lazer do prédio.
Um pouco todos os dias
Nem é preciso muito tempo ao ar livre: 1 hora por dia (no mínimo) brincando, aprendendo e convivendo com a natureza já traz benefícios para crianças e adolescentes. A SBP lista alguns deles:
. Melhora o controle de doenças crônicas como diabetes, asma, obesidade, entre outras; diminui o risco de dependência ao álcool e a outras drogas, além de favorecer o desenvolvimento neuropsicomotor.
. Favorece força motora, equilíbrio e coordenação das crianças; reduz as sensações de tristeza, raiva, fadiga, ansiedade e déficit de atenção associado à hiperatividade.
. Treina a atenção e outras funções cognitivas, além de prevenir estresse tóxico durante a infância.
. Proporciona bem-estar mental, auxilia no equilíbrio dos níveis de vitamina D.
. Estimula a criatividade, autoconfiança, capacidade de escolha e tomada de decisões para resolução de problemas; melhora a coordenação psicomotora.
. Instiga a criança a ser ética, ter empatia, humildade e senso de pertencimento quanto aos recursos naturais, auxiliando desde cedo na preservação da natureza.
. Auxilia no desenvolvimento cognitivo, emocional, social e educacional.
. Incentiva a interação social e integração entre os membros da família.
Atividades nas diferentes faixas etárias
A criança e o adolescente precisam da natureza assim como a natureza precisa deles. Por isso, a SBP orienta os pais e responsáveis a permitirem os riscos benéficos do contato dos filhos com a natureza, deixando que eles se desenvolvam e aprendam a lidar, desde cedo, com as consequências. O que proporcionar e estimular em cada fase:
De 0 a 7 anos. Brincar ao ar livre, no movimento de ir além, nas experiências sensoriais.
De 7 a 12 anos. Aumentar o raio de exploração, de curiosidade, de autonomia, de lidar com o risco percebido e de alcançar a competência ao lado dos amigos.
Após 12 anos. Buscar desafios, aventuras e convivência social entre pares.
E as escolas, instituições e poder público? Os primeiros precisam equilibrar o tempo destinado às atividades curriculares com o tempo livre (recreio); e o poder público deve garantir que toda criança e adolescente tenha acesso a áreas naturais.
Como aproximar a criança da natureza
Atividades que os pais podem fazer ao ar livre junto com os filhos ao ar livre ou em casa (quando não é possível sair) para que eles tenham contato com a natureza.
. Cultive um jardim, uma horta ou vasos dentro de casa. Por meio do processo de plantar, cultivar, colher e preparar alimentos, é possível que a criança desenvolva as habilidades citadas acima sem precisar sair de casa. Caso não tenha espaço, hortas comunitárias também são uma ótima opção.
. Leve a criança para passear de bicicleta, na rua, no pátio do prédio ou em parques públicos. Segundo o infográfico Bicicleta para uma Infância Saudável, aprender a pedalar e ter o controle da bike promove "a habilidade de usar o corpo para impulsionar um meio autônomo de locomoção; a consciência sobre as próprias limitações e a capacidade de avaliar os riscos inerentes a esse exercício de domínio do corpo em conjunto com a bicicleta, no qual cair, levantar e começar de novo leva a uma profunda sensação de autoconfiança e liberdade".
. A natureza não precisa estar longe. Brincar "do lado de fora" engloba um passeio na rua, o pátio do prédio, a praça mais próxima. Nos dias em que isso não for possível, Silvia Jeha, fundadora do Viveiro Sabor de Fazenda e do projeto Dedinho Verde (suspenso durante a pandemia), sugere os pais convidarem preparar alimentos (fazer manteiga de azeite com ervas, por exemplo), fazer experimentos com sementes, colocar os talos de verduras, frutas e ervas para brotarem na água, usar uma lupa para observar os insetos e outras curiosidades no jardim ou mesmo nas plantas dos vasos.
. Conte suas histórias de criança para seu filho e ofereça também livros e revistas sobre a natureza.
Leitura para pais e educadores
* Desemparedamento da Infância: a escola como lugar de encontro com a natureza (Instituto Alana). Disponível aqui.
* Lixo – de Onde Vem? Para Onde Vai? (editora Moderna, R$ 33,90, 96 pág.)
* A Última Criança na Natureza (editora Aquariana, R$ 52, 400 pág.). Um alerta do jornalista Richard Louv sobre o Transtorno do Déficit de Natureza, comum em crianças e adolescentes que não têm o hábito de frequentar praças, cultivar hortas ou simplesmente passar algumas horas ao ar livre.