Um livro escrito por Edward Osborne Wilson, em 1984, com o título Biofilia, descreve o termo como uma tendência do ser humano a voltar a atenção para as ‘coisas’ vivas. Literalmente, biofilia que dizer amor (philia) à vida (bio), mas, como elemento vivo, podemos também considerar amor à natureza; ao verde. Em 1994, Edward publicou um segundo livro, dessa vez em parceria com Stephen Kellert, intitulado “A hipótese da biofilia”, que discute a possibilidade de haver base genética para nosso apreço pela natureza.
Yoshifumi Miyazaki, codiretor do Centro para Meio Ambiente e Saúde da Universidade de Chiba, no Japão, uma das instituições mais ligadas ao tema no mundo, afirma que o corpo humano foi feito para se adaptar à natureza, e parques, jardins e flores têm efeitos benéficos em seu bem-estar.
De acordo com uma matéria publicada no jornal O Globo, em 2013, “seu trabalho tem como base a premissa de que passamos 99,99% de nossos cinco milhões de anos de evolução como primatas em meio à natureza. Seríamos essencialmente conectados à ela”. Pode parecer um tanto esotérico, mas cientistas de diversos países, como Holanda, Reino Unido e Japão, perceberam que, ao entrar em contato com o verde, o corpo logo responde, de forma sutil, com pressão mais baixa e maiores níveis de glóbulos brancos (responsáveis pelas defesas do organismo).
Não há um consenso da ciência e dos estudiosos se o ‘apego’ à natureza vêm da genética ou se é cultural. Pesquisas feitas em hospitais mostraram, inclusive, vários fatos interessantes, entre eles, que, mesmo plantas artificiais ou paisagens virtuais exibidas em telões, exercem uma influência sobre os pacientes parecida com a de estar de fato inserido na natureza real. O que nos faz pensar que o efeito de ser meramente ‘transportado’ para a natureza, mesmo que não se tenha contato integral com ela, já causa um efeito positivo nas pessoas.
Um estudo conduzido pela University of Birmingham e publicado na revista científica Air Quality, Atmosphere & Health, revelou mais um potencial das plantas: elas melhoram a qualidade do ar dentro de casa, chegando a reduzir o dióxido de nitrogênio (NO2, um poluente comum onde há muita circulação de carros) em até 20%. Mas, para obter esse efeito, são necessárias várias plantas juntas num mesmo espaço.
Como isso se reflete na realidade da vida urbana? Arquitetos e designers de interiores, diante desses estudos e práticas, consideram a biofilia, ou seja, a presença do verde de forma bem mais predominante nos projetos de residências e escritórios.
Não há muitos artigos falando de forma específica sobre a técnica, mas, segundo o arquiteto Otto Felix, do Studio Otto Felix, dentro da semiótica, o verde é totalmente necessário em qualquer ambiente. “O olho sempre procura por elementos da natureza e a ausência deles resulta em desconforto. O verde, portanto, é como um ponto seguro”, diz Otto.
Ainda segundo o arquiteto, tudo o que vem da terra (não só as plantas) e remete o homem à sua origem, é benéfico. “A vida anda extremamente corrida, atrapalhada e, por isso, todo ambiente que promove essa conexão, traz conforto e bem-estar”.
As pessoas que trabalham em escritórios cheios de verde também se tornam mais felizes e produtivas, de acordo com uma pesquisa realizada há alguns anos pela Gensler, maior escritório de arquitetura do mundo. Não dá para dizer que as plantas, por si só, têm esse poder, porém, ao comparar empresas mais produtivas com demais empresas, o estudo da Gensler constatou que as primeiras ofereciam ambientes de relaxamento e de maior interação entre as pessoas. E as plantas estavam inseridas nesse contexto.
Seria muito bom se todos pudessem ter a orientação de um arquiteto para criar uma mini floresta dentro da sala ou no escritório. Mas, como isso nem sempre é possível, fica a sugestão: inspire-se nos benefícios da biofilia e leve mais verde para sua sala e outros ambientes da casa onde você mora ou trabalha.
Passo 1. Não tenha medo de exagerar
Sim, as jungles (ou florestas) estão na moda. Então, não tenha receio de exagerar na quantidade de plantas – elas nunca são demais. Escolha um canto para encher de vasos e transformar na sua floresta particular ou espalhe-os pela casa para que o sentimento de proximidade com a natureza esteja em todos os cômodos.
Passo 2. Escolha as plantas certas para o tipo de ambiente
Pesquise ou peça ajuda na hora de comprar. Plantas que precisam de sol reagem diferente das que ficam muito bem (obrigado) dentro de apartamentos com luz restrita. Isso é fundamental para a escolha das espécies que vão compor a sua área verde.
Passo 3. Cuide delas como se fossem da família
Algumas precisam ser regadas diariamente, outras preferem o ambiente mais desértico e, nesse caso, você precisa regá-las apenas uma vez por semana, e olhe lá. Descubra mais sobre a sua nova melhor amiga e cuide dela como se fosse da família.
Passo 4. Experimente
Algumas plantas reagem muito bem quando colocadas na água. As espadas de São Jorge e as jiboias, por exemplo, criam lindas raízes e mudas em pouco tempo. Se o vaso for de vidro, o efeito é maravilhoso.
Curiosidade sobre Otto Felix: ele pratica a biofilia em sua própria casa e, junto com a esposa, cultiva plantas e ervas usadas tanto para cozinhar como no preparo de cosméticos caseiros. Otto também sugere queimar ervas em determinadas horas do dia."É um ritual que está na moda e busca reconexão com a natureza." Será? Vale fazer o teste.