Sistema de saúde holístico de origem indiana, o ayurveda seduziu o ocidente inicialmente com seus óleos essenciais, massagens, temperos e shots para a imunidade. E, aos poucos, seu potencial como medicina complementar foi sendo reconhecido, aqui e mundo afora. No Brasil, se tornou prática integrativa do SUS em 2018.
Porém, o melhor cenário ainda está por vir. No início de 2020, a consultoria de tendências globais WGSN divulgou que a ayurveda vai dominar o segmento de bem-estar em 2021. Segundo a Industry Research, o mercado global da prática ancestral, que em 2017 era avaliado em 4,5 bilhões de dólares, deverá alcançar 14,9 bilhões de dólares até 2026.
O médico especializado em terapia intensiva José Ruguê, referência do método do aumento das clínicas no Brasil, afirma que a ayurveda está experimentando desde já um ressurgimento fora e dentro da própria Índia. Não por causa das clínicas de bem-estar e venda de produtos, mas da pandemia do novo coronavírus. “As técnicas utilizadas têm muito a contribuir tanto para a prevenção quanto para o tratamento da doença”, afirma o médico. Mas ressalta: “A ayurveda não anula a medicina moderna. Ao contrário, elas se complementam. Não apenas no caso da covid-19, mas no tratamento de outras doenças, como a esclerose múltipla e doenças degenerativas dos sistemas nervoso e osteoarticular, além das doenças autoimunes”.
Prática integrativa do SUS
Responsável pelo centro de referência de ayurveda como medicina complementar no SUS (sistema único de saúde) da cidade de Araguari (MG), dr. Rugê explica: “Além de evitar a contaminação pelo vírus, as pessoas perceberam a importância de manter o sistema imunológico saudável para reduzir o risco das complicações da covid. A imunidade é o principal fator para determinar o processo infeccioso pelo vírus”.
O tripé do método indiano para equilibrar o organismo e, consequentemente, manter a imunidade alta são alimentação de fácil digestão, exercício físico regular e estado mental positivo. “Não adianta a pessoa comer só orgânicos, por exemplo, e envenenar a mente com pensamentos negativos.” Isso explica a importância da meditação e do yoga diárias para o ayurveda. Acordar cedo, de preferência como nascer do sol, observar o corpo também fazem parte dos rituais diários de autocuidados, assim como raspar a língua e beber de dois a três copos de água morna em jejum.
Medidas extras contra o coronavírus
Durante a pandemia, o médico recomenda algumas medidas extras, como beber chá de alfavaca ou de manjericão com gengibre, cúrcuma e pimenta-do-reino ao longo do dia e, para manter as mucosas hidratadas e protegidas do vírus, acrescentar as seguintes técnicas matinais:
*pingar uma gota de óleo de gergelim morno (ou óleo de coco) em cada narina
*fazer gargarejo com água morna e sal
*bochechar óleo de coco
Nutrição de corpo e alma
A consultora ayurvédica Carol Stofella, parceira da VegMag, era vegetariana quando começou a trilhar o caminho da ayurveda para nutrir o corpo de maneira integral. Cursou gastronomia e, atualmente, repassa seus clientes os benefícios da alimentação baseada na prática ancestral. “Oriento as pessoas a utilizarem as diferentes qualidades dos alimentos e como consumir os seis gostos (amargo, ácido, adstringente, picante, salgado e doce) para manter o equilíbrio do agni (fogo digestivo)”, diz Carol.
O conceito da alimentação ayurvédica é complexa, mas a aplicação, segundo a consultora, é simples. “Quando entende a importância de manter a própria natureza em harmonia com a natureza externa, a pessoa se mantém equilibrada e saudável a maior parte do tempo. E isso pode ser feito com mudanças sutis no cardápio e no estilo de vida”. Atualmente morando no Oriente Médio, onde é welness gead chef da família real, Carol ressalta ainda que a visão do ayurveda sobre saúde é bioenergética, e não apenas bioquímica. “Também precisamos cuidar daquilo que sentimos e pensamos”.
Reconexão com a natureza
A reconexão com a própria natureza ajudou a ex-cineasta Giedra Benjamin a superar crises frequentes de enxaqueca, depois de buscar vários outros tipos de solução. “Como já era vegetariana e praticante de yoga, fui direto para os tratamentos mais intensos”, conta Giedra que, depois de curada, resolveu ressignificar a carreira e colocar toda sua energia no ayurveda. Se formou terapeuta ayurvédica na Índia e, atualmente, atende na clínica Vida de Clara Luz, em São Paulo, e na clínica do dr. Ruguê, em Araguari. “Aprendi com o ayurveda que a doença surge, muitas vezes, em função do mau uso do intelecto”. Giedra também afirma que respeitar a própria natureza nos mantêm mais no fluxo da vida.
Como alcançar esse equilíbrio? O ayurveda recomenda nos comportamos, bebermos e comermos de maneira adequada aos nossos doshas (vata, kapha e pitta). Do contrário, as doenças acontecem. O três doshas determinam nosso biotipo a partir de fatores que ocorrem desde o momento da concepção até o nascimento. Eles podem variar em diferentes momentos da vida, mas precisamos mantê-los em harmonia para evitar doenças físicas e emocionais. A auto-observação e os autocuidados do método indiano podem nos colocar no caminho de volta para o equilíbrio e a saúde integral.