Na busca de estabelecer mais equilíbrio entre sustentabilidade e relação harmônica com os animais e o planeta, muitas pessoas têm diminuído a carne e os laticínios ou cortado de vez esses alimentos do cardápio. Tendência forte aqui e lá fora. Só em áreas metropolitanas, cerca de 30 milhões de brasileiros não comem mais nenhum tipo de produto de origem animal, segundo um levantamento de 2018 feito pelo IBOPE (Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística). No Reino Unido, o número de veganos quadruplicou entre 2006 e 2018, de acordo com a The Vegan Society (sociedade vegana fundada em 1944, na Inglaterra). Porém, poucos têm feito escolhas saudáveis, principalmente quando se trata de processados com textura e gosto idênticos aos das comidas convencionais, como acontece com alguns hambúrgueres vendidos em supermercados ou servidos em fast-foods. Muitos têm até mais sódio, gordura saturada (de palma, por exemplo) e aditivos químicos, como corantes e conservantes, quando comparados aos produtos originais. A saída do consumidor é ficar atento à falsa ideia de saudabilidade que algumas marcas veggies tentam emplacar.
Olho vivo nos ingredientes
Quando você leva para casa um alimento industrializado, seja por praticidade ou para variar o cardápio, cheque a lista de ingredientes. "Quanto menos itens melhor. Os ingredientes precisam ser conhecidos, naturais e, preferencialmente orgânicos", orienta a nutricionista Gabriela Parise, da Clínica NutriOffice, em São Paulo. Um iogurte vegano à base de leite de soja, por exemplo, deve ter no máximo mais dois ingredientes: fermento e lactobacilos vivos. "As opções com aromatizantes, conservantes e edulcorantes se afastam dos produtos in natura, que devem ser a base da alimentação saudável”, comenta Gabriela, que sugere aos seus pacientes seguirem uma dieta rica em legumes, verduras, leguminosas, cereais integrais, frutas, sementes e castanhas. Então #ficaadica: o selo de alimento vegano não é garantia de que você está escolhendo o melhor para sua saúde.
Melhor: cheque o rótulo de todos os produtos, especialmente se você tem crianças em casa. Elas são as mais afetadas. Ao comparar o perfil lipídico de meninos e meninas com até 12 anos, pesquisadores da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre constataram alterações significativas no grupo que consumia alimentos processados com frequência. Outro estudo associou o excesso de produtos industrializados a um risco maior nos adultos de câncer em geral, porém, são necessários mais pesquisas para um resultado conclusivo.
Investigar a embalagem dos alimentos industrializados exige um tanto de paciência, mas parece que a vida do consumidor vai ficar mais fácil. Um novo modelo de rotulagem, que sinaliza quando o produto tem sódio, gordura ou açúcar em excesso, aguarda aprovação da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). Até lá, você pode consultar o aplicativo Desrotulando (para Android e iOS) – é só escanear o código de barra para obter uma avaliação nutricional do produto.
O perigo da junk food
O mesmo cuidado com a escolha dos alimentos nos supermercados deve ser repetido nos fast-foods e restaurantes, que aproveitam o impulso da comida "saudável" para ampliar as opções do cardápio. Embora não tenham carne gorda, bacon e outras gorduras de origem animal, os salgadinhos empanados e pizzas veganas também podem ter excesso de gordura e de calorias, além de carboidrato simples. O mesmo acontece com os doces – as versões sem leite, ovo e manteiga costumam conter a mesma quantidade (ou mais) de açúcar.
Enfim, para ser saudável, a alimentação vegetariana/vegana deve priorizar os alimentos in natura e alguns poucos processados. Os ultraprocessados devem ser consumidos ocasionalmente ou, se possível, evitados. Reveja ainda outros hábitos alimentares: o tamanho das porções ingeridas e a técnica utilizada no preparo do alimento também interferem na qualidade da alimentação. É isso: cuide do planeta, dos animais e da sua própria saúde – essa é a equação mais próxima do equilíbrio e de uma vida com harmonia.