Atletas Veganos

VEGANISMO E ESPORTE? COM A PALAVRA, OS ATLETAS.

É POSSÍVEL COMBINAR AS DUAS COISAS. DESCUBRA COMO.


Helen Almeida | Feb 03, 2019

Quem seria capaz de dizer que Serena Williams, uma das tenistas mais vitoriosas da história está fraca ou não tem um bom rendimento no esporte por conta da sua alimentação? Impossível, não é mesmo?! Serena, a patinadora Meagan Duhamel, a maratonista ganhadora da Pólo Norte Maratona, realizada a temperatura de -28ºC, Fiona Oakes, o fisiculturista Patrik Baboumian e tantos outros atletas de alto rendimento têm em comum, além de suas carreiras vitoriosas, o estilo de vida vegano. Eles não são os únicos e, diferente do que se pode pensar, atletas veganos podem, sim, ter um excelente desempenho.

“Eu literalmente não podia jogar mais tênis, então essa mudança [na dieta] realmente mudou minha vida. Felizmente, consegui encontrar algo que me ajudou a voltar a fazer o que sempre amei”

(Serena Williams em entrevista ao The Guardian)

VEGANOS EM MARATONAS AQUÁTICAS E CORRIDAS DE MONTANHAS?

No Brasil, a Equipe Multiesportiva Força Vegana conta com atletas que competem em diversas categorias e contribuem para a difusão e quebra de mitos quanto ao veganismo. Entre esses atletas estão Diego Cury que compete em corrida com obstáculos e maratona aquática (provas de natação em águas abertas) e cuja rotina de treinos é de seis dias por semana, e Enzo Amato que pratica corrida de montanha e treina cinco dias por semana, sendo que uma vez por semana faz um treino longo nas montanhas de San Juan, Argentina, onde mora há dois anos.

Os atletas contam que a relação entre sua alimentação e a rotina de treinos é bastante cuidadosa, baseada em instruções de um profissional da nutrição. Para Diego, o veganismo o ajudou a expandir, inclusive, a variedade de alimentos que consome, o que melhorou seu estado nutricional:

“Eu comecei a consumir uma variedade muito maior de alimentos do que antes. Antes eu me limitava muito mais a determinados grupos alimentares do que hoje. Hoje eu consegui expandir isso, o que acaba melhorando o meu estado nutricional porque eu consumo mais micronutrientes, mais vitaminas de fontes diferentes, entre outras coisas”.

Ambos são enfáticos ao frisar a importância de se consultar um nutricionista para garantir a saúde e o bom desempenho. Para Enzo, consultar uma profissional foi essencial, em especial durante a transição alimentar: “Sempre procurei associar o trabalho da nutricionista com os meus treinos. Então, comparando a época que comia carne com agora, eu acho que é muito importante na transição, quando você passa a fazer essa nova dieta, ter ajuda da nutricionista. Quando comecei a não comer carne e nem derivados, senti que precisava de uma ajuda para saber se eu estava no caminho certo, não exagerando na quantidade. Ela me ajudou bastante e, a partir do momento que me explicou a quantidade correta para quem não come carne, nem ovo, nem queijo e nenhum derivado, entendi como deveria funcionar”.

Enzo Amato

 

MAS, E AS VITAMINAS?

Atletas ou não, a preocupação com a vitamina B12 está sempre na cabeça dos veganos, afinal, manter a saúde em dia é fundamental. Já no caso deles, é necessária uma atenção especial e ambos suplementam a vitamina.

“Quanto a suplementação, eu suplemento com a vitamina b12 e tenho conseguido manter os níveis bem bons. Suplemento também com proteína isolada de arroz para aumentar meu aporte de proteínas devido ao treino de força e também faço uso de creatina”, conta Diego. Já Enzo afirma que a única suplementação que faz é a de vitamina B12 e que essa é a única grande diferença entre seus cuidados e os de atletas que consomem carne e derivados de animais.

“Quem é atleta tem bem inserido na rotina uma dieta, seja ela com carne ou sem. Atleta já tem isso na rotina e a única diferença é que sendo vegano vai passar a ler mais rótulos e cuidar um pouco melhor do que está ingerindo. É mais consciente”.

APESAR DO PRECONCEITO, ELES SEGUEM DIFUNDINDO O VEGANISMO

Diego conta que, além de lidar com o preconceito, tenta ser um exemplo, já que considera essa a única forma possível de realmente influenciar na mudança de outras pessoas.

“Eu confesso que isso é uma das coisas que mais me motiva como atleta. Sempre quando eu estou treinando eu penso que eu estou provando para as outras pessoas que é possível e que elas não necessitam de nada que tenha sofrimento animal envolvido para ter um bom desempenho físico, para ter bons resultados estéticos e para ter boa saúde” 

 

Diego Zanotto (à direita)

 

Partindo do princípio que o preconceito vem da falta de informação, Enzo também tenta lidar de maneira positiva: “Antes eu achava que você precisava comer carne para ser saudável. E, na verdade, o que eu tinha era desconhecimento de que esse tipo de alimentação não é sustentável para o planeta e em algum momento vai ficar insustentável”. Ele conta que tenta ser ponderado na hora de falar sobre a causa, fazendo o que chama de trabalho de formiguinha.

@VEGANASNOESPORTE

As amigas maratonistas Andréa e Emily, que se tornaram veganas no mesmo período, se conheceram graças ao Força Vegana e, juntas, criaram a página Veganas no Esporte, no Instagram. @Veganasnoesporte tem o objetivo de falar a respeito do dia a dia de veganos que praticam esportes ainda que de forma amadora e, assim, desmistificar essa relação.

Elas contam que a associação entre o veganismo e a prática de esporte ajudou na saúde quando estavam em processo de emagrecimento:

“A alimentação vegana e a prática de esportes intensos nos livrou do efeito sanfona e estamos conseguindo nos manter dentro de um peso saudável”.

Na página, elas contam também das dificuldades e como as solucionam.“A maioria das corridas são em cidades de interior, muitas fora de SP em lugares q as vezes nem sabem o que é veganismo. Então ainda temos um pouco de dificuldade, mas sempre conseguimos nos virar. Na maioria dos casos, alugamos lugares em que possamos cozinhar”.

Elas também se atentam a suplementação de vitamina B12, mas afirmam que o principal foco é manter uma alimentação o mais natural possível, evitando industrializados, comendo alimentos crus e germinados que potencializam a absorção de todos os nutrientes necessários. A saúde agradece: “Raramente ficamos doentes, todos os nossos exames de sangue estão excelentes e temos disposição para fazermos nossos 2 treinos todos os dias, mais os treinos longos de final de semana”.

Elas, que são atletas amadoras, sempre publicam na página informações sobre as provas que competem, falando sobre as dificuldades, alegrias, a recuperação pós prova e contam que em 2019 trarão novidades “Este ano estamos focando mais nos treinos e em ficarmos mais fortes para provas específicas”.

“O veganismo nos levou para o esporte e agora queremos ajudar as pessoas a terem uma vida mais saudável e sustentável, com preocupação sobre cada decisão de consumo, seja na alimentação ou nas demais coisas do dia a dia, então diariamente mostramos as pessoas como é nossa rotina de treinos, alimentação e outros temas relacionados também”