Saúde

UM VILÃO CHAMADO CARNE

ALGUMAS RAZÕES PARA DEIXAR DE CONSUMIR


Renata Losso | Aug 20, 2018

Da campanha Segunda Sem Carne, que desde 2009 é promovida pela Sociedade Vegetariana Brasileira no país, à Operação Carne Fraca, que em 2017 trouxe à tona fraudes e irregularidades na produção e comercialização dos produtos de grandes empresas do mercado da carne, atualmente são diversos os incentivos para reduzir o consumo de proteína animal.

Os estudos são muitos, mas a carne vermelha costuma ser o maior alvo de contestações: alguns associam o alto consumo dessa proteína animal a um maior risco de doenças cardíacas, outros a consideram um fator de risco para o desenvolvimento do câncer colorretal. Neste último caso a carne processada – linguiças, salsichas e presunto, por exemplo – é ainda mais prejudicial: para ser mais exato, a International Agency for Research on Cancer (Agência Internacional para Pesquisa sobre o Câncer), da Organização Mundial de Saúde (OMS), concluiu em 2015 que cada porção de 50 gramas de carne processada consumida diariamente pode aumentar o risco desse tipo de câncer em 18%. E o risco aumenta conforme a quantidade de carne consumida. 

50 gramas de carne processada consumidas por dia podem aumentar em 18% o risco do câncer colorretal. 

Entre os problemas de saúde relacionados à carne vermelha está também o aumento do risco de diabetes tipo 2, informação obtida a partir de pesquisa publicada em 2013 no Journal of the American Medical Association (Jornal da Associação Médica Americana). Dividindo os voluntários em três grupos, notou-se que, no grupo que aumentou o consumo de carne durante os anos do estudo, seguiu-se também um aumento notável no risco de desenvolver a doença: de 48%. Já no caso dos voluntários que haviam diminuído o consumo diário o número de risco passava para 14%.

Por mais que o produto seja defendido culturalmente por ainda ser considerado a fonte de proteína hors-concours de muitos brasileiros – além de ter valor nutritivo, oferecendo nutrientes como ferro, zinco e vitamina B12 –, os malefícios de seu consumo em excesso estão recebendo cada vez mais atenção. Porém, enquanto o Ministério da Saúde recomenda o consumo de 300 a 500 gramas de carne vermelha por semana – e o objetivo de saúde pública do World Cancer Research Fund (Fundo Mundial de Pesquisa do Câncer) seja o de limitarmos esse número a não mais do que 300 gramas –, um estudo publicado em 2016 no site da United States National Library of Medicine (Biblioteca Nacional de Medicina dos Estados Unidos) revelou que mais de 80% dos brasileiros ingeria uma média de 88 gramas de carne vermelhas e processadas por dia.

Os brasileiros consomem cerca de 88 gramas de carne vermelha processada por dia, enquanto a recomendação é que essa quantidade não passe de 300 gramas por semana.

Esperamos que estes números estejam ficando no passado. Ainda que as mazelas do consumo de carne continuem sendo contestadas até hoje, os diversos males para a saúde já são visíveis. Um dos itens que se somam à lista de preocupações é, por exemplo, o uso muitas vezes indiscriminado de antibióticos em fazendas de criação de, por exemplo, aves e suínos, o que contribui para que bactérias tenham mais resistência a antibióticos (que se tornariam menos eficazes). O fator é tão relevante que em 2017 a OMS lançou novas diretrizes sobre o tema e recomenda que agricultores e indústria de alimentos deixem de usar antibióticos rotineiramente para prevenir doenças em animais saudáveis.

Um artigo publicado no Journal of the American Osteopathic Association (Jornal da Associação Americana de Osteopatia) em 2016 com o nome de “Is Meat Killing Us?” (em tradução literal, “A carne está nos matando?”) avaliou seis diferentes estudos e relacionou a excessiva ingestão de carne vermelha ao aumento de mortalidade por todas as causas. Na conclusão do artigo, lê-se que

“Evitar carnes vermelhas e processadas e ter uma dieta rica em alimentos de origem vegetal, incluindo frutas, verduras, grãos, nozes e legumes são recomendações sólidas baseadas em evidências”.

A recomendação é tanto válida para a nossa própria saúde quanto para a saúde do meio ambiente. Além da crueldade com os animais – para se considerar apenas um exemplo entre tantos de como as consequências do consumo da carne vão além da nossa saúde e atingem o planeta como um todo –, a agropecuária tem colaborado para o aquecimento global com números alarmantes: de acordo com o livro norte-americano “Forks over Knives – The plant-based way to health” (em tradução literal: “Garfos sobre Facas – O caminho baseado em plantas para a saúde”), editado por Gene Stone, a criação de gado para fins alimentícios produz mais gases que promovem o efeito estufa do que todos os veículos que emitem dióxido de carbono juntos.

No fim das contas, razões para diminuir o consumo de carne ou até mesmo evitá-lo por completo não faltam. Se não for pela sua própria saúde, afinal, acabará sendo pela do próximo.