A discussão sobre açúcar e adoçante parece eterna, já que existem estudos afirmando que os adoçantes artificiais, consumidos nas doses recomendadas pelos fabricantes, são seguros. Mas existe também uma série de pesquisas relacionando essas substâncias a danos ao organismo. Na dúvida, a OMS (Organização Mundial da Saúde) divulgou, no segundo trimestre de 2023, a recomendação de se evitar ao máximo substituir o açúcar pelos edulcorantes (adoçantes) e a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) adotou a mesma medida, pois os prejuízos desses últimos produtos não são poucos.
O problema começa na absorção incompleta dos adoçantes pelo nosso organismo, o que faz com que eles terminem de ser metabolizados pela microbiota, provocando gases, estufamento abdominal e diarreia. A longo prazo, também podem surgir crises que vão desde dores de cabeça a problemas bem mais graves, como doenças cardíacas e renais e até câncer.
Existe ainda a possibilidade do efeito rebote, favorecendo o ganho de peso, em vez de auxiliar no emagrecimento. Isso porque os substitutos artificiais do açúcar afetam a capacidade cerebral do corpo diminuindo a percepção de saciedade – as pessoas passam a comer mais e, consequentemente, a engordar.
AÇÚCAR, SÓ EM DOSES REDUZIDAS
Não significa que o açúcar de cana refinado (açúcar de mesa ou açúcar branco) está liberado. É um ingrediente que também traz prejuízos ao organismo, além de ser viciante – quanto mais você consome, mais sente necessidade dele. E, em excesso, engorda, envelhece e inflama o intestino. De qualquer maneira, os riscos são mais amenos que aqueles oferecidos pelos adoçantes.
Melhor ainda seria evitar adoçar os alimentos com adoçantes, açúcar ou qualquer outro produto que intensifique o dulçor dos alimentos. O paladar pode ser estimulado a sentir o sabor do que você come e bebe, sem precisar adoçar com nada, até mesmo o cafezinho e o suco de limão. Gradativamente, as papilas gustativas vão se acostumando ao azedo e amargo dos alimentos e, num determinado momento, deixam de classificá-los como sabores "desagradáveis".
ALTERNATIVA PARA QUEM TEM DIABETES
No caso de diabetes, há duas possibilidades: a pessoa que sofre da doença também pode reeducar o paladar para o sabor natural dos alimentos ou, então, continuar a usar adoçantes. Isso porque não existe outro substituto do açúcar que possa ser recomendado para quem apresenta insuficiência na produção ou má absorção de insulina, hormônio que regula a glicose (açúcar) no sangue e garante energia para o organismo. A indicação dos adoçantes também segue valendo aos pacientes que precisam reduzir o consumo de calorias para perder o excesso de peso, mas não conseguem deixar de adoçar os alimentos.
CALÓRICOS, MAS COM ALGUNS NUTRIENTES
Você não abre mão de adoçar o suco e o cafezinho, e é saudável? Então troque o açúcar de cana (até mesmo o mascavo e o demerara) pelo melado de cana, mel de abelha orgânico (para não veganos), açúcar de coco, mel de tâmara, açúcar de maçã ou agave, nessa ordem (em último caso, estévia produzida com a planta cultivada sem pesticidas). São opções que, consumidas em doses moderadas, não provocam alterações na saúde. Não no caso dos diabéticos. Reforçando: pessoas que sofrem dessa doença só podem consumir adoçantes.
NATURAIS E ARTIFICIAIS
Os adoçantes são substâncias com sabor doce (centenas de vezes mais que o açúcar comum), divididos em duas categorias: naturais e artificiais.
NATURAIS: extraídos de plantas, acrescentam alguns nutrientes e valor energético reduzido, exceto estévia (adoçantes naturais isentos de calorias).
Valor calórico em 1 grama:
Sacarose (açúcar de mesa) – 4 kcal
Açúcar de coco – 3,8 kcal
Mel de abelha – 3,2 kcal
Agave – 3,1 kcal
Estévia – 0 kcal
ARTIFICIAIS: produzidos sinteticamente em laboratório, geralmente são isentos (ou quase) de calorias e nulos em nutrientes. Algumas dessas substâncias até podem ser encontradas em pequenas quantidades na natureza, em alguns alimentos, mas são produzidos sinteticamente para uso da indústria. Veja os mais comuns.
Valor calórico em 1 grama:
Sacarina – 0 kcal
Ciclamato – 0 kcal
Aspartame – 4 kcal
Sucralose – 0 kcal
Acessulfame-K – 0 kcal
Xarope de maltitol – 2,1 kcal
Hidrolisado de amido hidrogenado – 2,4 kcal
Isomalte – 2,1 kcal
Sorbitol – 2,5 kcal
Lactitol – 2 kcal
Manitol – 1,5 kcal
Maltitol – 2,7 kcal
Taumatina – 0 kcal
Xilitol (2,5 kcal)
Eritritol (0 kcal)
Estévia – 0 kcal
OPS, NATURAL OU ARTIFICIAL?
Entenda porque alguns adoçantes ficam entre as duas classificações
1. Apesar de produzidos pela indústria, xilitol (2,5 kcal) e eritritol (0 kcal) são classificados pela indústria e nutricionistas como adoçantes naturais, já que apresentam uma composição bem próxima a da encontrada na natureza.
2. A taumatina também é encontrada na natureza, mas a usada pela indústria é sintetizada e, como ainda não existem muitos estudos sobre essa versão da substância, os profissionais da área de nutrição não têm como afirmar se é um adoçante totalmente inofensivo à saúde.
3. Por que a estévia aparece nas duas categorias (natural e artificial)? Para alertar a todos que, apesar de proveniente da planta Stevia rebaudiana, durante o processamento industrial, a matéria-prima pode ser associada a substâncias artificiais e aditivos químicos que a tornam mais estável. Nesse caso, vem acompanhada de componentes que podem causar reações adversas, deixando de ser uma opção natural e saudável. Mas existem marcas que a mantêm mais próxima da sua forma pura e natural. Essa informação consta no rótulo da seguinte forma: folhas orgânicas de estévia. Esta seria, então, mais uma opção de substitutos naturais – depois do agave, na ordem das escolhas mais saudáveis.
MANTENHA FORA DO ALCANCE DAS CRIANÇAS E GRÁVIDAS
O consumo de adoçantes (artificiais ou naturais) por mulheres gestantes pode aumentar em duas vezes o risco de sobrepeso na criança, na primeira infância.
Quando ingeridas durante a gravidez, as bebidas com adoçantes também estão associadas a um menor período de amamentação e introdução alimentar precoce, considerados outros dois fatores a favor da obesidade infantil.
É importante ressaltar ainda que estudos demonstram que, quanto mais bebidas artificialmente adoçadas uma mãe grávida consumir, maior a probabilidade de ela dar à luz prematuramente, e maior o risco da criança desenvolver alergias alimentares e asma. Por isso, doses moderadas de açúcar de coco, mel ou agave continuam valendo nesse período.
*Laís Murta é nutricionista especializada em nutrição funcional.