MENOS INDUSTRIALIZADOS

BASTA SER CHAMADO DE VEGANO PARA SER SAUDÁVEL? MUITA CALMA NESSA HORA.

NÃO SE ENGANE PELO RÓTULO. SER VEGANO NÃO GARANTE QUE O ALIMENTO SEJA BENÉFICO PARA A SAÚDE.


Helen Almeida | Oct 04, 2018

Uma infinidade de legumes, verduras e frutas nos passam pela cabeça quando pensamos em uma alimentação vegana, afinal todos esses alimentos devem estar presentes em abundância na vida de um adepto ao veganismo. A partir dessa ideia, é comum que se imagine que todos os produtos intitulados veganos sejam saudáveis e podem ser consumidos tranquilamente. Mas isso pode ser considerado uma verdade absoluta? Já adiantamos que não. Conversamos com o Dr. Daniel Boarim, médico e nutrólogo, para saber mais sobre alimentos veganos que são ou não benéficos e quais caminhos podem ser seguidos para não cair nesse mito e garantir uma alimentação saudável e saborosa.

O primeiro ponto é desmistificar a concepção equivocada de que um alimento é invariavelmente saudável ou mais saudável apenas por ser vegano. Batatas fritas, algumas balas e outros junk foods, por exemplo, são veganos e estão longe do que pode ser considerado benéfico à saúde. “A concentração de açúcar, de produtos com auto índice glicêmico e aditivos químicos pode ser bastante expressiva. Quer dizer, são ingredientes nada saudáveis. São disruptores endócrinos. Então, o fato de ser um alimento vegano não é abono para você consumir livremente pensando que aquilo ali é bom para a saúde. Não é”.

Alguns acham que veganismo é sinônimo de dieta saudável e isso é fake”

Depois de esclarecer que nem tudo o que é vegano faz bem, é necessário compreender quais são os produtos que devem ser ponto de atenção para garantir que a saúde não seja prejudicada. Com o crescimento do mercado vegano, cresceu também o número de opções de produtos que ajudam a substituir alimentos com componentes de origem animal, como hambúrgueres, salsicha, mortadela, maionese, etc. Se, por um lado, essas alternativas estão se tornando mais populares, por outro, é preciso estar alerta. “Para consegui obter o sabor da mortadela, você tem que usar saborizantes artificiais, corantes artificias, conservantes artificiais, além de açúcar, sal e uma porção de coisas que tornam aquele alimento muito complexo, muito imunogênico, quer dizer, ele está muito longe de ser saudável”. O médico afirma que quando consumidos, esses produtos que são usados na adaptação a nova dieta, agregam substâncias químicas não naturais e xenobioticas que ocasionam um risco maior de alergia, doença autoimune, intolerância digestiva.

“Essas complicações gastronômicas impostas pela suposta necessidade de imitar certas comidas, certos pratos que fazem parte da nossa cultura, acabam levando a um risco de má adaptação nutricional muito grande. A pessoa se adapta mal e acaba desenvolvendo doenças, não vale a pena”

O Dr. Boarim explica que, além de evitar o chamado trio inflamatório: açúcar, sal e gordura, um vegano com intuito de cuidar da saúde deve também se informar e conhecer os princípios que regem a composição de uma dieta saudável e a partir daí fazer suas escolhas alimentares. E essas escolhas não envolvem necessariamente ter que optar por um alimento com sabor ruim; os conceitos de saboroso e saudável não são mutuamente excludentes. O que é gostoso pode ser saudável e o que é saudável pode ser gostoso. “ Mas não significa que para você obter um alimento saboroso, terá que usar uma culinária de alta complexidade. O grande problema está no ultra processado nas prateleiras. Está ali prontinho, mas se você preparar em casa, na hora, com muita facilidade e sem grandes complicações você pode ter pratos veganos muito saudáveis, muito gostosos, fáceis de preparar e vai reunir todos os atributos que a gente quer de um alimento”. O médico frisa a importância de optar pelos alimentos preparados em casa ou de se tomar bastante cuidado com a compra de alimentos industrializados.

“O vegano que quer fazer uma dieta saudável, em grande parte ele vai ter que se dar um pouco ao trabalho de fazer sua própria consiga e preparar. Porque se ele comprar prontas, tem opções mais saudáveis sim, mas ele vai ter que estar muito atento, vai ter que ler o rótulo. Esse é o segredo, ele vai ter que fazer uma leitura criteriosa dos rótulos dos alimentos que julga serem saudáveis. E para ele fazer essa leitura, tem que entender, tem que estudar e tem que se aprofundar”

Evitando produtos ultra processados e optando por uma alimentação o mais natural possível, dá até para notar uma diferença no sabor dos alimentos consumidos. Mas, para isso, de acordo com Dr. Boarim, há uma mudança de paradigma.

“Tem que pensar diferente para que o seu paladar se torne mais sensível e que você tenha mais acuidade gustatória pra perceber o quão saboroso é um brócolis, o quão saborosa é uma cenoura, uma vagem, um xuxu, uma couve de bruxelas, um cogumelo shitake, ou seja, pra você sentir bem o sabor dos alimentos, primeiro é preciso haver uma desintoxicação”.

Essa desintoxicação é considerada por ele o ponto principal para que passe a sentir uma outra forma de prazer gastronômico, um prazer na comida simples e não na industrializada. Para que ela ocorra, é necessário que haja uma transformação a partir da escolha de mudar paradigmas pessoais.

 

Fonte: Daniel de Sá Freire Boarim é Médico pela Universidade Federal do Paraná, Nutricionista pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, especialista em Nutrição Humana pela Universidade Federal de Lavras, professor universitário e conferencista internacional na área de vida saudável. Como escritor, já publicou mais de dez títulos sobre alimentação e qualidade de vida, com mais de um milhão de exemplares vendidos no Brasil e exterior. Atualmente é médico na clínica Oásis em Curitiba e diretor clínico do Lapinha SPA.