Foto: Mateus Barros

O primeiro clube de futebol profissional vegano das Américas e segundo no mundo (o primeiro surgiu na Inglaterra) é brasileiro e pertence a Tibau do Sul, cidade litorânea no sul de Natal (RN). O nome? Laguna – um time que, apesar de dar seus primeiros passos (acaba de estrear na Segunda Divisão Potiguar) tem meta ousada: em dez anos, pretende chegar à Primeira Divisão do Campeonato Brasileiro. Se depender do pontapé inicial, não vai ser difícil isso acontecer.

A curiosidade despertada pelo clube vegano rendeu ao time um bom espaço na mídia nas últimas semanas. “Isso é muito bom para uma equipe que está só começando”, comemora o ex-jogador e técnico do time Gustavo Nabinger. Saiba como funciona: em primeiro lugar, os jogadores não precisam seguir uma alimentação 100% à base de plantas. Eles podem comer carne nos dias de folga, mas, no dia a dia, dentro do clube, a alimentação é totalmente plant-based, desde o café da manhã até o jantar. São seis refeições diárias para os jogadores que moram no alojamento – atualmente, quase todos os 28 –, com direito a algumas indulgências, como bolo, hambúrguer e cachorro-quente, veganos (claro!).

Cardápios montados por nutricionistas veganos

O equilíbrio nutricional do cardápio está sob a responsabilidade de nutricionistas parceiros da SVB (Sociedade Vegetariana Brasileira), que apoia a iniciativa do clube. Na primeira visita ao Laguna, na semana passada, os nutricionistas Marcela Worceman e José Balestrin, ambos veganos e especializados em nutrição esportiva, também aproveitaram para realizar o atendimento personalizado dos atletas e prescrever suplementação de vitamina B12, proteína em pó e creatina, além de isotônico e carboidrato durante os treinos.  

“O próximo passo é aguardar o resultado dos exames de sangue dos jogadores para fazermos ajustes individuais. Depois disso, assumimos o compromisso de acompanhar a avaliação corporal (peso, massa magra e gordura) de cada atleta, que será realizada pelo preparador físico do time e enviada para nós regularmente”, explica Marcela.

Treinamento especial para o time da cozinha

A SVB também escalou as chefs Camila Botelho e Mirna Ribeiro para treinarem o time da cozinha no preparo de pratos visualmente atrativos e capazes de conquistar facilmente o paladar dos jogadores, até mesmo daqueles que sentem falta do hábito de comer carne.

“Quando chegaram no clube, muitos deles nunca tinham ouvido falar de alimentação vegana e, por isso, ficaram receosos com o gosto da comida e com os efeitos na performance física. Porém, a cada dia, eles se surpreendem com as diferentes possibilidades de proteína vegetal, com o sabor das preparações e com a resposta do corpo. “Todos disseram que se sentem mais leves após as refeições e com mais disposição para o treino”, diz a nutricionista. 

Sócios plant-based

Além do Gustavo, o Laguna tem outros dois sócios e, como os três não comem carne, em nenhum momento discutiram a possibilidade de incluir esse item na  alimentação servida no clube. “O veganismo é um valor intrínseco dos sócios, não tinha como ser diferente”, explica Gustavo, vegetariano desde 2003 e vegano desde 2020. Mesmo assim, ele deixa claro: “O Laguna é um clube de futebol”.

Estabelecer o veganismo como filosofia do clube, segundo Gustavo, não muda o objetivo principal do time de jogar um bom futebol, mas pode ajudar a conscientizar as pessoas (jogadores, funcionários e torcedores) sobre a importância de reduzir o consumo de carne, inclusive dentro dos estádios.

Medidas sustentáveis no dia a dia

O respeito do Laguna pela vida dos animais e a do planeta vai além do cardápio, como manda o veganismo. O uniforme de viagem/passeio dos atletas e da comissão, por exemplo, é de algodão orgânico, produzido pelo Saint Studio. As mochilas, da Holy Fancy, seguem o mesmo conceito de sustentabilidade. E, para reduzir o lixo plástico, o Laguna investiu em garrafinhas reutilizáveis de inox.

A separação do lixo produzido no dia a dia também é regra. O clube tem parceria com a Pipa Limpa (empresa encarregada em retirar o material no local e dar o destino adequado para os compostáveis, recicláveis e resíduos comuns.

Projetos futuros 

Gustavo tem planos de implementar outras ações capazes de reduzir o impacto no meio ambiente, algumas mais ousadas, como montar um gramado 100% orgânico – projeto reservado para quando o clube conquistar seu campo próprio. Maravilhoso! A gente aqui fica na torcida para que o Laguna tenha muito sucesso no futebol e em todas as suas propostas de respeito ao planeta e a todo tipo de vida