iguaria saudável

PIMENTAS: MALVADAS OU BOAZINHAS? VOCÊ DECIDE

Descubra porque elas trazem benefícios à saude


Gabriela Hunnicutt | Jul 23, 2020

Muito antes de nossas avós ou bisavós começarem a arregaçar as mangas na cozinha, a pimenta já era utilizada não apenas como alimento, mas também como medicamento, fazendo parte da medicina tradicional árabe, grega e romana. É por isso que, apesar de nos castigarem com seus variados graus de ardência, elas podem ser consideradas grandes aliadas da nossa saúde. 

Com suas cores, cheiros e sabores, as pimentas não só enfeitam os pratos, como vêm ganhando cada vez mais espaço em nossa gastronomia. Seja in natura, seja em forma de geleias, pastas ou até desidratadas.

Em primeiro lugar, vamos entender a questão da ardência. O que faz uma pimenta arder mais que outra é o seu teor de capsaicinoides. A escala que mede o grau de ardência de cada tipo é chamada de Scoville Heat Units (SHU) – em português, Unidades de Calor Scoville (batizada com o nome do seu criador, o americano Wilbur Scoville), e pode ir de 1 mil (como é o caso da pimenta biquinho) a 2 milhões de SHUs. Para chegar ao seu valor, a pimenta é imersa em uma solução com água e açúcar – quanto mais solução for necessária para diluir a pimenta, mais picante ela é. Com essa informação em mãos, na hora de escolher a pimenta que vai usar, basta conferir esse índice. Como curiosidade, a pimenta mais malvada do mundo, com 400 vezes mais SHUs que a Jalapenho, é chamada Carolina Reaper e já entrou para o Guinness Book. Com 2 milhões de SHUs, se não consumida com muito cuidado, pode até matar. E põe malvada nisso. Muito cuidado com ela.

Agora, vamos entender melhor como atuam os principais componentes das nossas amigas ardentes, trazendo inúmeros benefícios para a nossa saúde.

1. Antioxidantes 

Tanto a capsaicina, como a violaxantina (presente nas pimentas amarelas) e a luteína (também presente em folhas verdes) possuem ação antioxidante, o que ajuda na prevenção de uma série de doenças crônicas e no retardo do envelhecimento. Além disso, os ácidos ferúlico e o sinapínico, presentes nos vários tipos de pimentas, também têm as mesmas propriedades. Ou seja, antioxidante é o que não falta.

2. Termogênicas

Antes que você saia correndo para comprar 1kg de pimentas e comer no almoço e no jantar, não, elas não fazem você emagrecer por si só. O emagrecimento depende de uma série de fatores combinados, como dieta equilibrada, exercícios físicos e por aí vai. Mas, sim, elas podem ajudar. Isso porque um de seus componentes - já mencionado acima, a capsaicina é um dos melhores e mais potentes termogênicos naturais que existem. A função de um termogênico é fazer com que a temperatura do corpo aumente e as células usem as nossas reservas de gordura para compensar o gasto energético. Esse composto, de acordo com alguns estudos, também ajuda no controle das taxas de glicose e insulina na circulação, inibindo o acúmulo de gordura.

3. Analgésicas

Mais uma vez a capsaicina entra em ação. Esse componente tem o poder de relaxamento da musculatura e redução da dor. Esse era, inclusive, um dos usos mais comuns das pimentas na medicina antiga. Mas atenção, pessoas com gastrite, refluxo e outras doenças gastrointestinais devem consultar um médico antes de consumi-las, pois o efeito pode ser exatamente o oposto do desejado.

4. Anticancerígenas

E lá vem mais uma vez a capsaicina. É sabido que ela ativa o sistema imunológico e aumenta o número de glóbulos brancos e células B, produtoras de anticorpos na circulação. Cientistas da Universidade de Connecticut, nos Estados Unidos, testaram o efeito da capsaicina em respostas imunológicas relacionadas especificamente ao câncer. Camundongos com tumores agressivos, ao receberem injeções da substância, tiverem seus tumores reduzidos ou ainda eles pararam de crescer ou desapareceram por completo.

5. Cardioprotetoras

De acordo com um estudo realizado pelo Instituto Neurológico Mediterrâneo Neuromed, com mais de 22 mil pessoas por cerca de 8 anos, o consumo frequente de pimentas pode reduzir o risco de problemas cardiovasculares. Ainda são necessários mais estudos para confirmar, mas a literatura científica dá indícios de que a pimenta ajuda no equilíbrio dos níveis de colesterol no sangue, na vasodilatação e no controle da pressão arterial.

6. Descongestionantes

A pimenta (nomeadamente a malagueta) é um eficiente desobstrutor das vias respiratórias. Descongestiona os seios da face e limpa o pulmão, tratando vários problemas nos brônquios. 

Como vimos (e não desprezando os demais), o grande protagonista de tudo isso é a capsaicina. Infelizmente não são todas as pimentas que fazem parte da família Capsicium, uma delas é a nossa famosa e tão utilizada pimenta-do-reino. Mas, então, quais os tipos que devemos consumir para conseguir usar e abusar de todos esses benefícios? Entre as quase 30 espécies da família estão a pimenta-malagueta, a habanero, o jalapeno (consideradas bem ardentes), além da biquinho, a murupi e a dedo-de-moça (consideradas mais suaves).

Veja algumas delas:

Pimenta-malagueta

 Jalapenho

Habanero

Pimenta biquinho

Dedo-de-moça amarela

Dicas: 

- Se você não está acostumado a comer pimentas, comece aos poucos. Pique com cuidado, lembrando de lavar sempre as mãos, para que não leve os dedos ‘apimentados’ aos olhos. A experiência não será das melhores. Se preferir, tire as sementes que são especialmente ardentes. Uma opção é utilizar a pimenta vermelha em flocos. Da mesma forma, comece aos poucos. Coloque bem pouca quantidade, prove e depois acrescente mais se for o caso.

- É comum as pessoas tomarem água quando uma pimenta arde demais. Errado, a água ajuda a capsaicina espalhar pela boca e a situação só tende a piorar. Beba, sim, leite integral ou iogurte. A caseína, proteína presente no leite anula o efeito da capsaicina. 

- A pimenta ajuda o organismo a absorver o princípio ativo da cúrcuma (ou açafrão- da-terra), que é um potente anti-inflamatório. Combinar os dois ajuda que essa absorção seja bem-sucedida.

Fontes: “Comer para vencer doenças”, Dr William W. Li, Ed. Fontanar; “Alimentos que curam”, Sarah Merson, Ed. Publifolha; “Alimentos para a Imunidade”, Charlotte Haigh, Ed. Publifolha; Revista Veja, Ed. Abril; “Segredos da Dieta Perfeita”, Anna Selby, Ed. Publifolha; EMBRAPA (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária)