Fotos: Ernani Mesquita (@ernani_mesquita)
Folhas verdes têm gosto de folhas verdes, concorda? Umas mais amargas, outras ardidinhas ou neutras, mas sempre com um fundinho de planta. O peixinho da horta (Stachys byzantina), também conhecido como orelha de coelho e lambari da horta, é exceção. Considerado uma PANC (planta alimentícia não convencional), ele ganhou o nome popular de peixinho não só por causa do formato alongado, mas principalmente pelo leve sabor de peixe quando empanada e frita.
As folhas gorduchinhas são ricas em óleos vegetais e minerais, especialmente potássio, cálcio e ferro, segundo dados da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária). A nutricionista Mariana Bechelli, que se dedica aos estudos das PANCs, destaca outro componente. “O peixinho da horta pode contribuir para o brasileiro melhorar a quantidade de fibras no prato, atualmente tão pobre nessas substâncias imprescindíveis para a saúde do intestino”. Portanto, mesmo quem não faz questão de comer um alimento que remeta sutilmente ao gosto de peixe, deveria investir nessa PANC.
Cultive em casa
Quem recebe caixa de orgânicos em casa tem mais chance de consumir o peixinho da horta. Já em supermercado e hortifrutis, ele dificilmente aparece. Mas é uma planta bem fácil de você cultivar em casa a partir de uma muda, em qualquer cantinho com terra ou num vaso. Forma pequenos arbustos bastante folhosos e resistentes a insetos. É resistente a pragas, gosta de solo fértil e sol pleno, mas não se adapta muito bem em lugares com excesso de calor, o que explica a presença mais comum nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste do país.
PANC não é PANC em todo lugar
A definição de planta alimentícia não convencional é dada àquelas plantas que ainda não estão disponíveis no mercado. Por isso uma PANC não é PANC em todo lugar. Um bom exemplo é a ora-pro-nobis: como faz parte do cardápio mineiro e divide a banca no supermercado com a alface e a rúcula, ela não entra nessa lista. Mas, em partes do país em que o acesso é difícil, a ora-pro-nobis continua sendo uma PANC, assim como o peixinho da horta e tantas outras plantas que, apesar de comestíveis e ricas em nutrientes, são pouco consumidas. A ideia, de acordo com a nutricionista Mariana Bechelli, é que o cenário mude: “As PANCs passem a ter o status de alimento convencional em todo o país. Assim, o brasileiro pode variar e melhorar a alimentação sem gastar muito.”
Fácil de fazer
Empanado, frito e servido como petisco. Essa é a maneira mais comum do peixinho da horta ser consumido e a que mais se aproxima do pescado. Mas dá para você usar a criatividade e fugir da fritura. Experimente assar. “Feita no forno, a folha não apresenta textura e sabor tão próximos ao do peixe, mas resulta num preparo crocante e bem gostoso, com as propriedades nutricionais da planta preservadas”, diz Mariana. Aqui, estão as duas receitas: frita e assada, você escolhe.
PEIXINHO DA HORTA FRITO
Ingredientes
1/2 xícara (chá) de farinha de trigo
1 colher (sopa) de amido de milho
1/4 de colher (chá) de fermento em pó
Sal, pimenta-do-reino, lemon pepper (opcional)
1/2 xícara (chá) de água gelada
De 15 a 20 de folhas de peixinho da horta lavadas e bem secas
Óleo para fritar
Modo de fazer
Em um prato fundo, junte a farinha, o amido, o fermento e os temperos. Acrescente a água e misture até obter uma massa homogênea. Passe as folhas nessa massa e frite no óleo bem quente até que fiquem douradas. Coloque sobre um papel-toalha para absorver o excesso de óleo e sirva em seguida com molho tártaro à base de abacate (receita a seguir).
Rendimento: 4 porções.
Tempo de preparo: 20 minutos.
PEIXINHO DA HORTA ASSADO
Ingredientes
1/2 xícara (chá) de farinha de linhaça
1 xícara (chá) de água
4 colheres (sopa) de farelo de aveia
4 colheres (sopa) de farinha de coco
Sal, pimenta caiena e ervas (alecrim, tomilho) a gosto
De 12 a 15 folhas de peixinho da horta, lavados e muito bem secos
Modo de fazer
Em um prato fundo, misture a farinha de linhaça e a água. Deixe hidratar por 15 minutos. Em um outro prato, junte o farelo de aveia, a farinha de coco, o sal, a pimenta e as ervas. Passe as folhas do peixinho, uma a uma, na farinha de linhaça hidratada e, em seguida, na segunda mistura. Espalhe bem as folhas empanadas em uma fôrma untada ou forrada com papel manteiga. Leve ao forno preaquecido a 180 °C e deixe assar por 20 a 40 minutos ou até dourar (vire as folhas na metade do tempo). Sugestão: polvilhe coentro fresco por cima. Sirva em seguida com molho tártaro à base de abacate (receita a seguir).
Rendimento: 3 porções.
Tempo de preparo: 30 minutos.
Molho tártaro à base de abacate
Ingredientes
1/2 abacate grande bem maduro (é importante o abacate estar bem maduro para não amargar o molho!)
2 colheres (sopa) de mostarda dijon
2 colheres (sopa) de azeite extravirgem
1/2 limão espremido
Sal a gosto
1 cenoura pequena cortada em cubinhos (ou picles da sua preferência)
Modo de fazer
Bata todos os ingredientes (exceto a cenoura) no liquidificador até obter um creme homogêneo. Junte a cenoura (ou picles) e sirva com o peixinho da horta frito ou assado.
Rende: 20 colheres (sopa).
Tempo de preparo: 10 minutos.
De outros “mares”
Não confunda o nosso peixinho da horta, de folha parecida com a da sálvia, com o peixinho da horta de Portugal. Lá, o nome é dado à receita feita com a vagem de feijão verde envolta em massa e frita, tipo um tempurá, da mesma forma como os japoneses costumam preparar. Mas os portugueses juram que a invenção é deles.