OVOS

OVO TODO DIA, PODE?

Sim. O que não pode é exagerar


Michele Alves | Jan 23, 2020

O consumo diário e exagerado de ovo entre os praticantes de atividade física, por causa da proteína (aliada dos músculos), virou um hábito preocupante. Apesar de ser um alimento considerado saudável, existe um limite para que ele deixe de fazer bem para fazer mal. O alerta também vale para os ovolactovegetarianos que acabam compensando a retirada da carne com esse alimento. Um estudo de 2013, publicado no conceituado periódico científico Bristow Medical Journal, continua usado como referência para a quantidade de ovo considerada segura, segundo o clínico geral Daniel Boarim, do Spa Lapinha, em Curitiba. “O estudo afirma que uma unidade por dia não aumenta o risco de doenças cardiovasculares, como infarto e derrame”, comenta o médico. Ao contrário. “Nessa quantidade, o ovo ajuda o sistema imunológico a reparar tecidos lesionados por um trauma físico ou uma doença infecciosa”, explica.

Já os benefícios apregoados por quem chega ao extremo de consumir até uma dúzia de ovo por dia, não são comprovados. A pessoa pode até perceber ganho na massa muscular. Mas será que os prejuízos que podem aparecer lá na frente, compensam? Melhor não arriscar. “É um hábito absurdo e não tem embasamento científico. Doze ovos por semana é o limite máximo.” E isso para quem faz um treino pesado na academia, todos os dias. “Costumo recomendar de 1,2 a 2 gramas de proteína para cada quilo de peso corporal, todos os dias, para quem pratica atividade física.” Exemplo: um homem com 90 quilos, deveria consumir de 108 a 180 gramas de proteína, no máximo, por dia. E, ainda assim, vinda de fontes variadas. Não só do ovo.   

Ovo pela primeira vez

As mães ansiosas para introduzir ovo na alimentação do bebê, devem esperar que ele complete seis meses, no mínimo. Mesmo assim, é importante ficarem atentas a possíveis reações alérgicas, já que se trata de um alimento bastante alergênico. Isso por causa da proteína, presente especialmente na clara. “O ovo é responsável pela segunda maior causa de alergia alimentar nas crianças, perdendo só para o leite de vaca”, diz Daniel. E a alergia alimentar é grave. “Pode causar doenças digestivas, edema de glote e choque anafilático”, alerta o médico. Nesse caso, o ovo deve ficar fora do cardápio da criança. “Mas se correr tudo bem, a criança não apresentar nenhum indício de alergia, ele pode fazer parte da alimentação regular”, orienta a nutricionista Juliana Maia, do Hospital Beneficência Portuguesa de São Paulo. Ela lembra, no entanto, que o excesso de proteína pode sobrecarregar os rins e o fígado. Por isso, a quantidade recomendada para crianças e adolescentes deve ser menor que adultos: até quatro ovos na semana, misturado a outros alimentos. Para os bebês (acima de seis meses), meio ovo por vez é suficiente, até quatro vezes na semana.

Clara ou gema?

Os dois. A clara concentra a maior parte dos aminoácidos essenciais responsáveis pela formação da proteína, nesse caso, de alto valor biológico (superior ao da carne vermelha). A gema contém outros nutrientes importantes, como vitaminas A, D e as do complexo B (B12 inclusa, pouco, mas tem), cálcio, ferro, fósforo, potássio, sódio e ômega-3. Também tem gordura saturada e colesterol, nem por isso deve ficar de lado. “O hábito de comer só a clara é outro mito sem lógica, a não ser que a pessoa tenha um colesterol nas alturas. Nesse caso, é melhor reduzir o consumo de ovos abaixo da quantidade considerada segura para uma pessoa saudável. Se for a única fonte de proteína completa, aí sim tudo bem tirar a gema e ficar só com a clara, mas é exceção”, orienta Daniel. 

E o colesterol?

Está supercomprovado que o colesterol da gema não interfere no colesterol do organismo. Mas quem tem colesterol alto é melhor não extrapolar. “O colesterol do ovo estimula o fígado a produzir mais colesterol. Dependendo do metabolismo da pessoa, isso pode ser um problema”, avisa Daniel. Apesar de considerar o ovo um ótimo alimento, o médico reforça que o consumo deve ser ajustado à dieta de acordo com as necessidade de cada pessoa.

OVO NORMAL, ORGÂNICO OU CAIPIRA? 

O que diferencia um ovo do outro é a maneira como a galinha é criada – desde a alimentação até o manejo. E isso sim faz uma bela diferença no tipo de consumo que você acredita (esperamos que seja o consumo consciente).

Normal. É o mais barato e, por isso, o mais consumido – o tipo lidera o índice de produção. Mas não existe a preocupação com o bem-estar das galinhas. Alojadas em gaiolas, elas sofrem mutilação no bico e passam o dia confinadas com uma quantidade enorme de outras galinhas. Vivem estressadas e perdem o apetite, o que compromete a qualidade do ovo. E, pior, configura uma quadro de maus-tratos.

Caipira (ou colonial).  É um ovo de galinha criada fora de gaiola, que cisca livremente, com até quatro vezes mais vitamina A que o ovo de galinha de granja, segundo estudos. A ração é de origem vegetal, como frutas e milho – por isso, a gema é bem amarela (não tem pigmentação artificial). A galinha caipira não recebe antibióticos e nem remédios para estimular o crescimento.

Orgânico. Produzido por galinha que recebe uma alimentação 100% orgânica, ou seja, sem agrotóxicos e fertilizantes químicos. Antibiótico e remédios para acelerar o crescimento também são proibidos. Assim, o ovo orgânico não apresenta qualquer tipo de resíduo químico. O alojamento preza pelo bem-estar da galinha e respeita seu comportamento natural. Mas, para ter certeza de que é orgânico, cheque a certificação na embalagem – o selo sinaliza que o produtor segue os parâmetros exigidos pelo Ministério da Agricultura.

Quanto a cor da casca, não se preocupe: indica apenas a cor da galinha. A branca põe ovo branco e a vermelha ovo marrom.