PANDEMIA

O QUE O CONSUMO DE CARNE TEM A VER COM AS PANDEMIAS

Alimentação plant-based é uma questão de sobrevivência


Luna Azevedo | May 15, 2020

Apesar de circular a informação de que o novo coronavírus foi produzido em laboratório, as evidências excluem essa possibilidade. Por ter similaridade genômica com o vírus da Sars, transmitido de morcegos para hospedeiros intermediários e, então, para os seres humanos, vários artigos científicos novos apoiam a possibilidade de o agente transmissor da Covid-19 também ter surgido em animais silvestres. Mas, como ainda não há estudos conclusivos, a origem do novo coronavírus continua em aberto.

De qualquer maneira, precisamos levar em consideração a relação do consumo de carne com novas doenças. Nada menos que 70% das enfermidades surgidas desde a década de 1940 são de origem animal. A afirmação é de um relatório (em inglês) da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), divulgado em 2013. E isso tem a ver com a expansão agrícola, associada ao surgimento e disseminação de doenças como HIV-1, encefalopatia espongiforme bovina, síndrome respiratória aguda grave (Sars) e novos vírus da gripe.

Para se ter ideia, 1/4 da superfície terrestre é usada para o pasto de ruminantes e 1/3 da terra arável destinada ao plantio de sementes para a pecuária. A criação de animais, direcionada para a produção de carne, leite e ovos, ocupa mais terra do que qualquer outra atividade humana. Quais os prejuízos disso? Só para citar alguns: devastação das florestas, desequilíbrio climático e extinção de plantas medicinais.

Sabe-se também que, quanto maior o número de animais concentrados no mesmo local (prática cada vez mais comum para atender o aumento no consumo de carne), maiores são as probabilidades do surgimento e disseminação de doenças. Segundo a FAO, além de consumir cada vez mais carne, a população mundial tem se deslocado com mais frequência para outras regiões. Com isso, os microrganismos que causam doenças viajam pelo mundo mais facilmente. Diante desse cenário, a ONU (Organização Mundial da Saúde) recomenda evitar a causa das doenças e não apenas combater os sintomas. 

Conclusão: mudar o hábito de comer carne (ao menos reduzir drasticamente), não é só uma questão de compaixão pelos animais, mas uma questão de sobrevivência humana. Vamos também repensar nossos hábitos de consumo: precisamos tanto? A pandemia do coronavírus tem nos mostrado que podemos viver com o necessário, sem exageros!

*Nutricionista materno infantil, atuante em alimentação vegana e vegetariana, Luna Azevedo é coordenadora do curso de pós-graduação focado em Nutrição Vegetariana e Vegana com Extensão em Gastronomia, no Instituto Luciana Harfenist, no Rio de Janeiro.