Vamos começar por aquele tradicional sanduíche natural de atum vendido na praia, nas lojas de conveniência e nas máquinas de venda automática de alimento que, de natural, só tem a cenoura e o alface. O que sobra, segundo a classificação de alimentos criada pela Universidade de São Paulo, são ingredientes processados e ultraprocessados. Quer ver?
AVALIE SE VOCÊ CONSOME MUITOS ALIMENTOS ULTRAPROCESSADOS
Distinguir os alimentos in natura ou minimamente processados dos processados até que é fácil. Já os ultraprocessados exigem um pouco mais de investigação no rótulo, mas não deixe isso pra lá. Saber se eles estão em excesso na sua alimentação, é fundamental para sua saúde. De acordo com um relatório divulgado pela Agência das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), a lista de prejuízos provocados pelo consumo excessivo de ultraprocessados é extesa: risco aumentado de obesidade, doenças cardiovasculares e metabólicas, câncer, depressão e desordens alimentares, além de maior fragilidade na velhice e mortalidade por causas diversas.
Como se não bastasse, os alimentos ultraprocessados estão no centro do sistema alimentar que degrada o meio ambiente. De 25% a 30% das emissões de gases do efeito estufa, que causam a crise do clima, hoje provêm do mesmo sistema que favorece os produtos que não são saudáveis, segundo a Aliança pela Alimentação Adequada e Saudável, uma rede de ONGs brasileiras.
Para orientar a população a fazer escolhas mais saudáveis, o documento da FAO se baseou no Guia Alimentar para a População Brasileira, resultado de uma parceira entre o Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde (Nupens FSP-USP) e o Ministério da Saúde. Reconhecido internacionalmente, a publicação propõe uma nova classificação dos alimentos, baseada no grau de processamento e, com isso, os alimentos foram divididos em quatro grupos, apresentados a seguir:
Alimentos in natura (não processados) ou minimamente processados
Obtidos diretamente das plantas ou animais, os alimentos in natura não sofrem qualquer tipo de modificação. Já os minimamente processados são alimentos in natura submetidos a processos de limpeza, remoção de partes não comestíveis, fracionamento, moagem, secagem, fermentação, pasteurização, refrigeração, congelamento e processos similares que não envolvam agregação de sal, açúcar, óleos, gorduras ou outras substâncias ao alimento original. O objetivo é tornar os alimentos mais acessíveis, seguros e mais palatáveis.
Fazem parte desse grupo: grãos, nozes, legumes, frutas e hortaliças, raízes, tubérculos, carne fresca, leite, chás, café, infusão de ervas, águas de torneira e engarrafada (confira mais exemplos)
Ingredientes culinários e industriais
São itens extraídos e purificados pela indústria a partir de alimentos in natura ou obtidos diretamente da natureza com o objetivo de produzir ingredientes culinários para a indústria de alimentos ou para o consumidor final. Os processos utilizados para isso (pressão, moagem, refino, hidrogenação e hidrólise, utilização de enzimas e aditivos) podem mudar radicalmente a natureza do alimento original e, consequentemente, interferir negativamente na saudabilidade. Esses ingredientes, geralmente são usados na preparação caseiras de alimentos in natura ou minimamente processados para criar preparações culinárias variadas e saborosas, como sopas, caldos, saladas, pães, bolos, doces e conservas, e também na indústria para a produção de alimentos ultraprocessados.
Fazem parte desse grupo: amidos e farinhas, óleos e gorduras, sais, adoçantes, ingredientes industriais, tais como frutose, xarope de milho, lactose e proteína de soja.
Alimentos processados
São produtos derivados dos alimentos in natura e que a indústria acrescentou sal, açúcar ou outra substância de uso culinário para torná-los duráveis e mais agradáveis ao paladar. Costumam ser consumidos como parte ou acompanhamento de preparações culinárias feitas com base em alimentos minimamente processados.
Fazem parte desse grupo: cogumelo, cenoura, pepino, ervilha, azeitona, palmito e couve-flor preservados em salmoura ou em solução de sal e vinagre; extratos ou concentrados de tomate (com sal e ou açúcar); frutas em calda e frutas cristalizadas; carne seca e toucinho; sardinha e atum enlatados; queijos e pão francês e todos os outros feitos de farinha de trigo, leveduras, água e sal.
Alimentos ultraprocessados
Todos aqueles produtos prontos para o consumo, que necessitam de aquecimento ou não, com formulações industriais feitas integralmente ou parcialmente de substâncias extraídas de alimentos (óleos, gorduras, açúcar, amido, proteínas). Costumam ainda ter derivados de alimentos (gorduras hidrogenadas, amido modificado) ou substâncias sintetizadas em laboratório (corantes, aromatizantes, realçadores de sabor e vários tipos de aditivos usados para prolongar a validade dos produtos, além de torna-los mais acessíveis e “atraentes”).
Esse grupo pode ser subdividido em duas categorias:
1. Lanches e sobremesas (pães, biscoitos, bolos, barras de cereais, batata fritas, doces, sorvetes, sanduíches de fast food e refrigerantes).
2. Produtos que necessitam de aquecimento (pratos prontos congelados, massas, nuggets, sticks de peixe, sopas desidratadas, fórmulas infantis e alimentos para bebês).
REGRAS PARA UMA ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL
Dúvida sobre as porções que você pode consumir de alimento ultraprocessado? O Guia Alimentar para a População Brasileira responde com estas quatro recomendações.
1. Prefira sempre alimentos in natura ou minimamente processados e preparações culinárias no lugar de alimentos ultraprocessados.
2. Utilize óleos, gorduras, sal e açúcar em pequenas quantidades ao temperar e cozinhar alimentos e criar preparações culinárias.
3. Limite o uso de alimentos processados, consumindo-os em pequenas quantidades, como ingredientes de preparações culinárias ou como parte de refeições baseadas em alimentos in natura ou minimamente processados. Quer fazer melhor? Sempre que possível, opte pelos alimentos in natura ou minimamente processados de cultivo orgânico.
4. Leia sempre o rótulo. Se açúcar, gordura hidrogenada estiverem no começo da lista de ingredientes, procure outra opção mais saudável. Faça o mesmo se o produto tiver substâncias pouco familiares, como corantes, emulsificantes, realçador de sabor.