Atletas Veganos

LEVANTADORA DA SELEÇÃO DE VÔLEI, MACRIS DIZ QUE MELHOROU A PERFORMANCE COM DIETA VEGANA

Nas Olimpíadas, a atleta também se recuperou mais facilmente de lesão no tornozelo


Eliane Contreras | Aug 02, 2021

Faltam seis dias para o encerramento dos Jogos de Tóquio e o Brasil já trouxe para casa mais medalhas (2 de ouro, 3 de prata e 5 de bronze) do que em qualquer outra Olimpíada; e até o dia 08/08 (encerramento do evento) promete ainda mais. Curiosamente, a Olimpíada 2020 é também a que mais reuniu atletas veganos, entre eles, a levantadora da Seleção Brasileira de Vôlei (favorita do Grupo A), Macris Carneiro, 32 anos. Em entrevista exclusiva à VegMag, na última sexta-feira, a voleibolista conta que adotou o estilo de vida vegano principalmente por amor aos animais. 

“Quando criança, eu sonhava em ser veterinária para poder salvar os bichos, mas o veganismo passou a fazer parte da minha vida somente em 2017, quando adquiri o conhecimento sobre o veganismo e, então, soube que poderia ser atleta e vegana”. Macris fez a transição rapidamente e, mesmo assim, foi tranquilo e trouxe benefícios em vários aspectos. “Percebi mudanças positivas no desempenho físico e na recuperação muscular; as fadigas e os desgastes físicos passaram a ser menos frequentes (aliás, a atleta sofreu entorse no tornozelo no penúltimo jogo, mas já voltou às quadras). O funcionamento do intestino e a qualidade do sono também melhoram muito.” Os ganhos foram ainda maiores depois que a jogadora procurou a nutricionista Marcela Worcemann, há cerca de um ano, para ajustar o cardápio de acordo com seu perfil metabólico. “Fez total diferença no equilíbrio para os treinos diários e, agora, nas Olimpíadas.”

Bom aporte de carboidratos e de compostos antioxidantes 

As jogadoras da seleção têm acompanhamento nutricional, mas a levantadora sentiu necessidade de uma orientação extra, específica para a alimentação vegana. “A Macris chegou no meu consultório sem nenhuma queixa, mas queria entender se seu cardápio estava adequado e se tinha algo para melhorar, além de querer ideias para as refeições e praticidade para as viagens, sem perda nutricional”, explica a nutricionista Marcela. 

Vegano ou não, o atleta precisa de uma alimentação pré, intra e pós-treino bem ajustada para não comprometer os estoques de energia. Do contrário, a fadiga muscular e as lesões acontecem mais facilmente e, ainda, fragiliza o sistema imunológico. Na alimentação vegana esses riscos são até menores, já que o cardápio, geralmente, oferece um bom aporte de carboidratos, além de compostos antioxidantes e anti-inflamatórios em abundância. “Essa combinação é essencial tanto para a performance quanto para a recuperação muscular”, diz Marcela. Porém, só deixar de consumir carne, leite e derivados não é suficiente. 

Suplementação: necessária para atletas de alta performance

Para atender as necessidades do organismo e ser considerada saudável, a dieta  vegana deve cortar os alimentos de origem animal e também os produtos pobres em nutrientes, como grãos refinados, açúcares refinados, adoçante e óleos adicionados. O cardápio da atleta, por exemplo, é composto de muitas frutas, vegetais, grãos, cereais integrais, leguminosas, castanhas, sementes e especiarias, tudo em boa quantidade. Mesmo assim, a proteína é suplementada. “Recomendo os suplementos proteicos principalmente para atletas que têm intervalos pequenos entre os treinos, como é o caso da Macris.” 

Para suprir a demanda de vitaminas e minerais, a atleta também precisa de suplementação, que ajuda a resolver outro desafio: comer um volume ainda maior de comida do que a dieta vegana normalmente já oferece. Mas, segundo a nutricionista, a Macris consome basicamente proteína em pó, carboidrato em gel (ou pó, misturado na água), creatina, aminoácidos e vitaminas D e B12.

Bem planejada, a dieta é mantida mesmo com rotina intensa de viagens 

Por causa da rotina de viagem, alguns atletas profissionais têm dificuldade de manter esse tipo de alimentação, mas a jogadora tem um combinado com a nutricionista. “Sempre que viaja para fora do país, a Macris entende a rotina que foi estabelecida para os atletas e manda mensagem pedindo orientação para os pontos que acha que vai ter dificuldade, como aconteceu agora, no Japão. Mas, como pegou o jeito da dieta, ela costuma se virar super bem: se adapta às comidas veganas locais e sempre leva alguns alimentos básicos na bagagem”. Macris também tem o suporte da delegação, que avisa com antecedência os hotéis e clubes que tem uma atleta vegana na Seleção Brasileira de Vôlei Feminino.   

CARDÁPIO: EXEMPLO DE 1 DIA

Sugestões da nutricionista para a jogadora, em dia de treino  

Café da manhã (8h)

.Banana prata

.Maçã

.Aveia em flocos

.Mix de chia e linhaça

.Suplemento proteico

.Pão de fôrma sem glúten

.Homus ou queijo vegano 

Durante o treino (10h)

.Carboidrato em pó 

.Água 

Intervalo entre os treinos (11h)

.Pão de fôrma

.Geléia

.Queijo vegano

.Suplementação de aminoácidos

.Isotônico 

Durante o treino de bola (12h)

.Carboidrato em gel 

Pós treino imediato (13h)

.Suplemento proteico

.Banana ou outra fruta

Almoço (14h) 

.Verduras

.Legumes

.Arroz branco cozido

.Feijão carioca cozido

.Mix de sementes de abóbora, girassol e gergelim

.Tangerina poncã 

Lanche da tarde (16h30)

.Banana prata

.Maçã

.Aveia em flocos

.Mix de chia e linhaça

.Suplemento proteico

.Pão de fôrma sem glúten

.Homus ou queijo vegano 

Durante o treino de bola (18h)

.Carboidrato em pó

.Água 

Intervalo entre treino e fisio (19h30)

.Suplemento proteico

.Carboidrato em pó

.Água 

Jantar (21h30) 

.Verduras

.Legumes

.Arroz branco cozido

.Feijão carioca cozido

.Mix de sementes de abóbora, girassol e gergelim

.Tangerina poncã

Ceia (23h)

.Pêra

.Mix de nuts  

MAIS ATLETAS VEGANAS NAS OLIMPÍADAS 2020

Ana Carolina da Silva: meio-de-rede medalhista mundial, também é destaque da  Seleção Brasileira de Vôlei Feminino e, ao lado da Macris, pode conquistar medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de Tóquio 2020.

Marta Vieira da Silva: escolhida como melhor futebolista do mundo por seis vezes, jogou como atacante e meia-atacante da Seleção Brasileira de Futebol Feminino. 

Naná Almeida: nadadora do Flamengo e 15 vezes campeã brasileira, representou o Brasil no revezamento 4X200 m.  

Mariana Fioravanti: centro do Bandeirantes Rugby, esteve entre as jogadoras da Seleção Brasileira de Rugby Feminino.