LEITE VEGETAL: É UM BOM ALIMENTO PRA CRIANÇA?

QUANDO E COMO AS BEBIDAS VEGETAIS SÃO BEM-VINDAS NA ALIMENTAÇÃO INFANTIL

 

 


LUNA AZEVEDO* | Apr 27, 2023

Antes de tudo, é importante ressaltar que nenhum alimento substitui o leite materno nos primeiros meses de vida da criança. A Sociedade Brasileira de Pediatria e o Guia alimentar para crianças brasileiras menores de 2 anos, produzido em 2019 pelo Ministério da Saúde, recomendam fortemente que ele continue sendo oferecido até 2 anos ou mais, a partir dos 6 meses em conjunto com a apresentação alimentar. 

Só existe indicação para o consumo de outro tipo de leite no caso da impossibilidade da amamentação até no mínimo 6 meses. Nesse caso, a Academia Americana de Pediatria indica o consumo de fórmulas infantis, incluindo as veganas à base de soja. 

Porque evitar o leite de vaca

De acordo com a Sociedade Brasileira de Pediatria e com o novo guideline para Alimentação de Americanos pelo U.S. Department of Agriculture (USDA) e U.S. Department of Health and Human Services, lançado em 2020, o leite de vaca, por várias razões (entre as quais o fato de ser pobre em ferro e zinco) não deve ser introduzido antes dos 12 meses de vida.

É um dos grandes responsáveis pela alta incidência de anemia ferropriva em menores de 2 anos no Brasil. Para cada mês de uso do leite de vaca a partir do quarto mês de vida, ocorre uma queda de 0,2g/dL nos níveis de hemoglobina da criança.

Outro aspecto levantado pela Sociedade Brasileira de Pediatria é de que para lactentes com tendência à alergia alimentar, a introdução do leite de vaca poderia aumentar o risco de seu desenvolvimento. 

O Guia alimentar para crianças brasileiras menores de 2 anos, pontua que o leite desnatado e o leite semidesnatado não são indicados para crianças menores de 2 anos, pois possuem carência de nutrientes importantes para o desenvolvimento infantil. Também salientam que, crianças alimentadas com leite de vaca, por não possuírem outra opção, devem receber suplementação de vitaminas e minerais.  

Além disso, o consumo de leite também está relacionado à intoxicação por organoclorados, pesticida agropecuário muitas vezes encontrado em amostras de leite de vaca ao longo dos anos. Assim como, um alto teor de aditivos químicos liberados pela indústria para assegurar a segurança do consumo.

Por fim, o consumo de leite de vaca não é um hábito sustentável, visto que a produção agropecuária e leiteira são a indústria de maior impacto ambiental no planeta, com excessiva produção de excrementos e dejetos, desmatamento para pasto e ração, consumo de água, contaminação dos lençóis freáticos, além de grande influência no desenvolvimento de doenças infecciosas, considerada uma questão de saúde pública. 

Os leites vegetais são mais adequados

O melhor leite vegetal - como é popularmente conhecida a bebida vegetal ou extrato vegetal - é aquele que mais se adequa ao gosto, bolso e necessidades de cada um. Podem ser produzidos a partir de diferentes possibilidades: aveia, arroz, castanhas, soja e sementes, por exemplo. Em pó (costuma ser mais cara), líquido e pastoso; industrializado e caseiro.

A qualidade dos industrializados depende da matéria-prima e da adição (ou não) de aditivos, açúcares e óleos vegetais. Já as versões caseiras oferecem a vantagem de sabermos exatamente o que tem na composição. 

O perfil de macro e micronutrientes (vitaminas e minerais) também variam de acordo com a matéria-prima, tanto na bebida industrializada quanto feita em casa. Aqui vão algumas características das opções vegetais mais utilizadas: 

Amêndoa: fonte de cálcio, rico em gordura boa, promovendo a saciedade. 

Arroz: tem mais carboidrato, mas sabe-se que o arroz é um dos alimentos menos alergênicos, reagindo em menos de 1% das crianças alérgicas. Não contém lactose e nem fitoestrógenos, portanto, é uma boa opção para crianças com alergias às oleaginosas, por exemplo.

Aveia: rico em fibra solúvel, bom para quem apresenta problemas cardiovasculares ou intestinais. 

Castanha de caju: fonte de gorduras boas, confere consistência mais cremosa e sabor mais neutro. 

Coco: rico em gordura saturada boa, facilmente encontrado em qualquer mercado. 

Soja: rico em proteínas, com uma textura mais densa. 

Vale ressaltar que os leites vegetais NUNCA devem substituir o leite materno ou a fórmula infantil, pois não são equivalentes nutricionalmente. No período da apresentação alimentar (a partir dos 6 meses), o uso pode ser esporádico, em preparações como mingau ou purê de frutas, se orientado pelo nutricionista. Depois disso, as bebidas vegetais podem fazer parte de smoothies, pudim de chia, panquecas, muffins e até preparações salgadas.  

Muita atenção na leitura do rótulo 

A variação na composição entre as marcas é muito grande e de relevância nutricional. Por isso os pais devem redobrar o cuidado ao ler o rótulo. Observar a lista de ingredientes, que é descrita em ordem decrescente de quantidade, na qual devem estar em evidência água e o componente caracterizador da bebida vegetal (aveia, amêndoa, arroz, coco, avelã, castanha de caju). Além disso, evitar opções que contenham adição de óleos vegetais, açúcar, adoçantes e aditivos químicos.

Já os leites vegetais fortificados com cálcio, zinco e vitamina B12 podem contribuir para o aporte adequado de vitaminas e minerais, ou seja, são substâncias que agregam valor ao produto. 

5 boas marcas de bebida vegetal

Para facilitar a escolha, seguem algumas opções sem adição de aditivos químicos, açúcares, adoçantes e óleos vegetais. 

A tal da castanha (@ataldacastanha

Cajueiro (@cajueirodobrasil

Naveia (@naveia)

Nude (heynude_)

Pamalani (@familiapamalani)

 

*LUNA AZEVEDO é nutricionista materno infantil, atuante em alimentação vegana e vegetariana.

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Referências bibliográficas

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SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA (São Paulo). Departamento de Nutrologia. Manual de orientação: alimentação do lactente, alimentação do pré-escolar, alimentação do adolescente, alimentação na escola. São Paulo, 2006. 64 p.