Muita gente acha que cará e inhame são o mesmo alimento; ou confunde um com o outro. Mas é importante você saber diferenciá-los, pois, embora os dois ofereçam uma dose de carboidratos, proteínas, fibras, vitaminas e minerais, apenas um deles tem propriedades terapêuticas.
A bagunça com os nomes começou lá no século 16, quando os portugueses trouxeram o inhame para o Brasil e a raiz começou a ser tratada como cará, que já existia por aqui. Houve uma tentativa de padronização internacional do inhame para taro, mas a mudança não emplacou. Para confundir ainda mais, dependendo da região do país, os nomes são trocados: o inhame é chamado de cará; e o cará de inhame.
Nas regiões Sul e Sudeste, a raiz menor, redondinha e peluda é reconhecida como inhame; a maior, com forma e tamanho próximos aos da batata-doce, como cará. No Norte e Nordeste, o cará é a menor, e o inhame a raiz maior.
Para evitar comer uma achando que é a outra, você pode sempre relacionar o nome ao formato.
Ambas são ricas em amido resistente (absorvido lentamente pelo organismo, evita o aumento brusco do nível glicêmico no sangue) e fibras. Apresentam fácil digestão e têm praticamente as mesmas vitaminas e os mesmos minerais, mas a concentração dos nutrientes e as propriedades terapêuticas são diferentes.
CARÁ
Por ter mais fibras que o inhame, controla melhor a absorção do carboidrato, equilibra os níveis do colesterol, aumenta a saciedade e ajuda a controlar mais o apetite e a melhorar o trânsito intestinal.
INHAME
Originário da Ásia e África, o inhame tem mais que o dobro de potássio e maior concentração de fósforo, magnésio, cálcio, ferro e vitamina B6 – substâncias que, juntas, agem na prevenção de anemia e doenças cardíacas, além de combater processos inflamatórios e de retenção de líquido, fortalecer os ossos e o sistema imunológico. A dupla potássio e vitamina B6 também atua na prevenção do mal de Alzheimer e auxilia nos tratamentos de leucemia, cansaço e perda de memória.
O inhame ainda tem diosgenina, uma espécie de fitohormônio semelhante ao estrógeno e, por isso, é capaz de aumentar a fertilidade nas mulheres e controlar os sintomas da TPM e menopausa. Ou seja, é uma raiz com propriedades terapêuticas, especialmente para as mulheres. Mais: reduz os níveis de colesterol ruim (LDL) e eleva os de enzimas antioxidantes, além de auxiliar no tratamento de alguns tipos de câncer.
COMO USAR UM E OUTRO
Saiba em que tipo de preparação cada um dos tubérculos é mais indicado:
CARÁ
Depois de cozido, continua com uma textura consistência, ideal para o preparo de purês, pães e bolos. Também fica ótimo assado e servido como acompanhamento.
INHAME
Submetido ao cozimento, adquire consistência viscosa e, por isso, é mais indicado para o preparo de purê, maionese vegana. cremes salgados e doces, leite, mousses, sorvetes e até brigadeiro.
Cru ou cozido? Algumas pessoas costumam acrescentar o inhame cru no suco verde, mas é melhor ele cozido. O processo de cozimento reduz a concentração de cristais de oxalato, composto que prejudica a absorção dos nutrientes presentes na raiz. O excesso de oxalato também pode ser tóxico para o fígado.
*Viviane Nunner: nutricionista clínica e autora do canal Nutricionista Viviane Nunner, no Youtube .
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