Por mais que as mulheres veganas tenham convicção da escolha por uma alimentação livre de itens de origem animal, sempre bate uma certa insegurança quando elas ficam grávidas ou pensam em engravidar. Sem duvida, os cuidados com a alimentação nessa fase devem ser redobrados. Porém, pequenos ajustes num cardápio vegano variado e focado em alimentos saudáveis podem ser suficientes para garantir todos os nutrientes que a mãe e o bebê precisam durante a gestação.
Não é o que acontece quando a alimentação é rica em produtos industrializados, geralmente ricos em açúcares e gorduras saturadas. A gestante precisa fazer muitas mudanças para evitar ganho de peso excedente e, assim, proteger a saúde dela e a do bebê. Estudos comprovam que a alimentação da mãe tem interação direta com a formação do metabolismo do seu filho e também com o desenvolvimento de doenças crônicas não transmissíveis, como diabetes, dislipidemia e doenças cardiovasculares.
O QUE NÃO PODE FALTAR
O ideal é que a mulher procure acompanhamento nutricional ainda na pré-concepção para aumentar a quantidade de nutrientes no dia a dia. É importante que ela consuma, por exemplo, mais alimentos fonte de ferro e cálcio (vegetais verde escuros como espinafre, couve, brócolis), ômega-3 (chia e nozes), antioxidantes (laranja e frutas vermelhas); vitamina A (cenoura, mamão e manga); vitamina C (frutas cítricas); zinco (feijões e castanhas); vitaminas do complexo B e fibras (frutas, vegetais e cereais integrais); e selênio (castanha-do-pará). Viu, só? A lista não inclui carne e leite e garante praticamente tudo o que a futura mamãe precisa para uma gestação saudável.
Como é encontrada exclusivamente em alimentos de origem animal, a vitamina B12 deve ser suplementada por qualquer pessoa vegana, em qualquer fase da vida. Ou seja, a mulher que deseja engravidar deve continuar tomando B12 – é uma vitamina tão importante quanto o ácido fólico, outra vitamina que deve ser suplementada na pré-concepção. Muitas vezes, o ferro também precisa ser reposto, já que o estoque desse mineral no organismo da mulher é consumido durante a gestação, seja ela vegana ou não.
Enfim, a gestação engloba diversas mudanças fisiológicas que afetam o metabolismo de todos os nutrientes. São alterações individuais, que dependem de fatores relacionados a cada mulher. Portanto, o acompanhamento nutricional nessa fase é indispensável para que possam ser corrigidas possíveis deficiências
O QUE EVITAR E CORTAR DO CARDÁPIO
Açúcar refinado, gorduras (principalmente a saturada) e sal em excesso, e alguns chás, especialmente hibisco, romã, ginseng e carqueja, são alguns dos itens não recomendados para as gestantes. Alguns estudos também sugerem que o excesso de cafeína pode estar associado à restrição de crescimento e peso do bebê, nascimento prematuro ou natimorto. Já o consumo de álcool durante a gestação pode gerar o chamado “espectro de desordens fetais alcoólicas”, que são alterações físicas, mentais, comportamentais e/ou de aprendizado que se podem perpetuar por toda a vida.
VIRAR VEGANA DURANTE A GRAVIDEZ É UMA BOA IDEIA?
A alimentação vegetariana pode ser seguida com segurança em todos os ciclos da vida, inclusive gestação, lactação e infância, de acordo com a Academy of Nutrition and Dietetics (ADA) e o Conselho Regional de Nutrição da 3ª Região (CRN3). A ADA considera ainda que um cardápio sem carne bem planejado (com o auxílio de um nutricionista, de preferência) promove benefícios à saúde, prevenindo doenças.
Se a mulher decidir pela alimentação vegetariana estrita durante a gravidez, sem problemas, desde que as escolhas sejam variadas e saudáveis e a suplementação de B12 feita da maneira adequada. As demais orientações preconizadas para aquisição de nutrientes específicos são as mesmas na alimentação vegetariana e onívora.
E O ÔMEGA-3?
Os níveis de ômega-3 são mais baixos em lactantes vegetarianas estritas, ainda que superiores aos níveis encontrados nas fórmulas infantis. Mas nem sempre o uso de suplemento é necessário, embora alguns médicos prescrevam a suplementação de ômega-3 à base de algas. Porém, consumir mais alimentos fonte de ômega-3 nesse período, como linhaça e chia (na forma de sementes e óleo), além de nozes, pode ser suficiente para garantir esse ácido graxo essencial para a saúde da mãe e do bebê.
OS RISCOS PARA O BEBÊ QUANDO A GESTANTE ESTÁ DESNUTRIDA
Os nutrientes que o bebê precisa vêm das reservas da mãe e dos alimentos que ela ingere durante a gestação. Portanto, a subnutrição materna pode levar a consequências graves, entre elas a restrição de crescimento intrauterino, tendência à anemia e infecções, alterações no desenvolvimento motor, alterações visuais e, posteriormente, menor rendimento escolar.
O cuidado com os níveis de nutrientes é importante também no período de amamentação. A lactante deve seguir as orientações de um profissional sobre as demandas de vitaminas, especialmente as A, C, D, E, K e do complexo B. E, se necessário, faça adequações no cardápio e na suplementação. Mas isso vale para mães vegetarianas e não vegetarianas. Aliás, não existem diferenças significativas na composição do leite produzido entre as lactantes que comem carne e as que não comem.
SUPLEMENTAÇÃO DE B12 DURANTE A AMAMENTAÇÃO
O aporte de B12 do bebê é garantido pelo leite materno e, por isso, a suplementação é importante também nesse período. A quantidade presente no leite materno depende dos níveis no sangue da mãe e da quantidade que ela ingere da vitamina nesse período. Se, por algum motivo, for necessária a introdução de fórmulas no lugar do leite materno, existem fórmulas veganas à base de arroz que disponibilizam B12.
*LUNA AZEVEDO é nutricionista materno infantil, atuante em alimentação vegana e vegetariana.