MENOS INDUSTRIALIZADOS

ALIMENTOS DISFARÇADOS DE SAUDÁVEIS

LEIA O RÓTULO PARA NÃO CAIR NESSA CILADA.


Helen Almeida | Nov 06, 2019

Você sabe o que é acidulante? E glutamato monossódico? Já podemos adiantar duas coisas: não são substâncias benéficas para sua saúde e, provavelmente, estão presentes em algum alimento “saudável” que você já comprou. 

 

Felizmente, as pessoas têm demonstrado mais interesse em cuidar da própria saúde. Uma das formas para isso tem sido adotar uma alimentação com menos produtos ultraprocessados, e isso é ótimo. Outra notícia boa: o interesse por opções saudáveis fez com que a  indústria aumentasse a oferta dessa categoria de alimentos. Mas nem tudo que é vendido como benéfico para a saúde, pode ser levado ao pé da letra. Como assim? 

“Muitos rótulos de alimentos ressaltam apenas as qualidades e tentam camuflar aquilo que não traz benefícios”, alerta a nutricionista carioca Gabriela Avvad. Resultado: a maioria dos consumidores compra o produto achando que está fazendo a escolha certa. Mas quem tem um olhar mais atento, quase sempre descobre substâncias estranhas com nomes esquisitos e, pior, interpretados pelo nosso organismo como inimigos. Aí pronto, lá vem inflamação – uma porta aberta para uma série de doenças. 

Esse tipo de “fraude” é comum mesmo nos produtos livres de agrotóxicos, com selo cruelty-free ou livre de glúten e de transgênicos. Para conseguir a certificação de orgânico, o produto tem que apresentar ingredientes com essa característica (fruta orgânica, por exemplo). Mas ele pode vir acompanhado de excesso de açúcar, aditivos químicos, espessantes e outros componentes nada naturais. O mesmo costuma acontecer com os produtos veganos, sem hormônio, lacfree ou non-fat. Conclusão: ter um selo de certificação nem sempre é garantia de um produto 100% bom para a saúde.   

Existe ainda aqueles itens que perderam a fama de saudável (por que não são e nunca foram), mas que muitos consumidores ainda acreditam ser uma boa opção. É o caso da maioria das barrinhas de cereais, de alguns frozen yogurt, chips de vegetais e pão mutligrãos integrais. Mais o caso mais emblemático é do peito de peru – um embutido fonte de proteína magra, mas que vem acompanhado de várias substâncias nocivas ao organismo. “Aquele sanduíche natural de pão integral com peito de peru que parece saudável, deveria causar pânico”, diz Gabriela. O consumidor, segundo a nutricionista, pode ingerir proteína de uma outra forma, sem excesso de sódio, conservantes e de gordura hidrogenada.

O mesmo vale para molhos prontos para salada. “Eles são ótimos para transformar um prato de folhas verdes em uma opção carregada de substâncias artificiais.” A nutricionista faz outro alerta: nem sempre trocar um sorvete de chocolate por um de fruta é uma boa ideia. “A última coisa que os sorvetes de uva e morango costumam ter é fruta. Eles são feito à base de açúcar, água e corante (aditivo químico que o nosso corpo não consegue metabolizar).” Por incrível que pareça, esse risco é menor no sorvete de chocolate.

COMO EVITAR AS ARMADILHAS

Ler o rótulo. Essa é a única saída para o consumidor escapar da cilada do falso saudável. Mesmo que a embalagem coloque os ingredientes bons em destaque, sempre confira a lista de ingredientes. “Não basta olhar a tabela nutricional. Ela pode mascarar os dados reais do alimento”, alerta Gabriela. Mas, no caso da lista de ingrediente, a fiscalização é rígida. Todos os itens que fazem parte da composição do produto devem estar descritos alí. 

De cara, a recomendação é evitar produtos acrescidos de conservantes, estabilizantes, corantes, edulcorantes e aromatizantes ou com excesso de gordura vegetal hidrogenada, açúcar e sódio. Segundo o Manual de Alimentação Cardioprotetora do Ministério da Saúde, eles não são saudáveis. No entanto, o ideal é você pesquisar todo e qualquer nome desconhecido que apareça na lista de ingredientes. Eles podem ser mais nocivos do que a gente imagina. A nutricionista aponta alguns desses vilões:  

Gordura vegetal hidrogenada: é a temida trans, gordura transformada a partir dos óleos vegetais por um processo de hidrogenação em condições de alta pressão e temperatura e durante bastante tempo. Nesse processo, átomos de hidrogênio são jogados de forma aleatória nas moléculas dos ácidos graxos poli-insaturados, típicos dos óleos, criando inúmeras moléculas novas que não existem na natureza. Vários estudos comprovaram se tratar de uma gordura capaz de desencadear   doenças cardiovasculares, doenças no fígado e obesidade. É usada pela indústria para aumentar o prazo de validade dos produtos, dar textura (evita o recheio do biscoito escorrer) e aumentar a crocância (alguém falou batatinha chips?). 

Aromas artificiais: são versões sintéticas, criadas em laboratório, de aromas característicos de determinados alimentos, como limão, laranja, morango, canela e baunilha. 

Acidulantes artificiais: substâncias usadas para aumentar a acidez ou intensificar o sabor ácido dos alimentos e para auxiliar na preservação do tempo de prateleira do produto. O consumo excessivo, ao longo da vida, pode causar descalcificação de ossos e dentes. 

Glutamato monossódico: aditivo químico que reproduz o umami (o quinto sabor). Mas, por ser uma fonte de sódio, seu consumo está relacionado ao aumento da obesidade. 

Estabilizantes: o nome já diz, eles mantém a estabilidade dos produtos. Evitam a separação dos ingredientes para que a composição se mantenha homogênea, o que também aumenta o tempo de prateleira. Lembrou daquele bolo pronto que costuma durar séculos no seu armário mesmo depois de aberto?