ALIMENTAÇÃO INFANTIL

ALIMENTAÇÃO VEGETARIANA REDUZ O RISCO DE OBESIDADE INFANTIL

O baixo teor de gordura saturada é apenas um dos motivos para a dieta à base de plantas proteger as crianças do excesso de peso  


Luna Azevedo | Mar 04, 2024

O número de crianças acima do peso no mundo preocupa a Organização Mundial da Saúde há tempos e o problema tende a piorar, caso acompanhe o ritmo dos adultos. Estima-se que, até 2050, 2,3 bilhões de pessoas apresentem sobrepeso, sendo 700 milhões com massa corporal (IMC) acima de 30, índice que configura obesidade.

Voltando às crianças: no Brasil, 12,9% do público infantil, entre 5 e 9 anos, estão na faixa de obesidade, segundo o Ministério da Saúde e a Organização Panamericana da Saúde; e não é só por culpa da genética.

Quando começar 

A alimentação na infância tem grande relevância na formação do metabolismo, desenvolvimento físico, cognitivo e estado de saúde durante esse período e na vida adulta, assim como no aparecimento (ou não) de diversas doenças. Portanto, é importantíssimo que os pais promovam hábitos alimentares saudáveis desde a fase da apresentação alimentar (no sexto mês de vida), com uma grande variedade de alimentos. Nesse sentido, a alimentação vegetariana (até mesmo a estrita, a vegana) facilita muito, sendo apontada como protetora contra a obesidade.

Fibras, vitaminas e antioxidantes

Explico: a alimentação vegetariana oferece menores níveis de gordura saturada e está associada a um menor conteúdo calórico quando comparada à onívora (alimentação com carne). Além disso, as crianças vegetarianas consomem mais vegetais, frutas, cereais, legumes, nozes e, consequentemente, uma maior quantidade de gordura poliinsaturada, carboidratos complexos, fibras, magnésio, boro, folato e antioxidantes (vitaminas C e E), carotenóides, flavonóides e outros fitoquímicos. Tendem ainda a consumir menos açúcar e alimentos processados. Enfim, é um padrão alimentar mais próximo dos que seguem recomendações oficiais, que oferecem menos risco para doenças cardiovasculares, como hipertensão arterial, diabetes mellitus, obesidade e dislipidemias. 

Gordura saturada

Diversos estudos apontam níveis menores de colesterol total, colesterol de lipoproteína de baixa densidade (LDL) e muito baixa (VLDL) em pessoas vegetarianas. Parte disso se deve ao fato de que a carne vermelha aumenta os níveis de LDL, o que vem sendo agravado pela valorização da gordura intramuscular para melhorar a palatabilidade, mesmo nos cortes magros. Resultado: junto com a proteína de origem animal, a população tem ingerido uma quantidade muito grande de gordura. É por isso que a alimentação onívora oferece um teor maior de gordura do que a vegetariana, mesmo quando o cardápio tem o mesmo total de calorias.  

O veganismo é para todos  

Especialmente na dieta vegetariana estrita (vegana), o consumo de vegetais e outros alimentos ricos em fibras é maior; e o de lipoproteína menor. Essa inversão, segundo estudos, ajuda as crianças a manterem o peso adequado, diminuindo as estatísticas de obesidade. Pesquisas também mostram que o efeito protetor dos vegetais (cereais, hortaliças, oleaginosas) está associado a uma menor ocorrência de doenças crônicas não transmissíveis (DCNTs) e de mortalidade.

Diante de todos esses benefícios, afirmo e reafirmo a posição da American Dietetic Association de que a alimentação vegetariana (mesmo estrita) é apropriada para todos, em diferentes momentos da vida: gravidez, lactação, primeira infância, infância e adolescência. Até mesmo atleta pode ser vegano.  

7 dicas para estimular a criança comer saudável

Como estimular as crianças a seguirem uma alimentação saudável, à base de vegetais? Seguem algumas dicas:

. É importante que os adultos criem hábitos alimentares saudáveis para as crianças e todos da casa. Elas estão em constante processo de aprendizado e seguem exemplos, principalmente os dos pais e dos irmãos. 

. Mesmo que a criança rejeite um alimento, não desista. Volte a oferecê-lo num outro momento, preparado de uma outra maneira. 

. Leve os pequenos para a cozinha ocasionalmente (tomando os devidos cuidados). Quando ajudam no preparo de uma receita ou da refeição, eles ficam curiosos e estimulados a comer o alimento pronto.

. Evite que a criança se distraia com aparelhos eletrônicos, como celular, tablet e TV. O foco deve ser a comida e a mastigação, como recomendado na prática de mindful eating. Vale tentar.

. Ofereça refeições coloridas, crie histórias com a comida, monte um desenho no prato. São estratégias que costumam funcionar mesmo com as crianças mais resistentes a comer um novo alimento.

. Opte por alimentos orgânicos e integrais no lugar dos processados e ultraprocessados. Procure fazer as preparações em casa ou, se não for possível, escolha refeições e snacks saudáveis, sempre prestando atenção nos ingredientes do rótulo evitando aqueles com muito açúcar ou gordura.  

. Fique muito de olho no açúcar, nem sempre descrito de maneira explícita no rótulo. Então, verifique outros nomes usados para esse ingrediente: dextrose, sacarose, xarope de frutose, xarope de glicose, maltodextrina, glucose, maltose, xarope de malte.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Dez passos para uma alimentação saudável: guia alimentar para crianças menores de dois anos : um guia para o profissional da saúde na atenção básica. 2 ed. – Brasília: Ministério da Saúde, 2010. 72 p. (Série A. Normas e Manuais Técnicos). Disponível em : http://nutricao.saude.gov.br/publicacoes.php

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https://abeso.org.br/obesidade-e-sindrome-metabolica/mapa-da-obesidade/