Água filtrada ou mineral? Depende. A primeira opção é segura para o consumo diário, em casa e no trabalho. Porém, se você estiver num lugar em que existe dúvida da qualidade da água ou dificuldade no acesso, a segunda opção é muito bem-vinda. Mas o uso contínuo pode não ser muito bom para sua saúde, sabia? Especialmente por causa do sódio e das toxinas da embalagem plástica que são liberadas na água, problema agravado com a exposição ao calor, no transporte e na prateleira do supermercado – quando você não esquece a garrafinha dentro do carro.
Além disso, comprar água mineral todo dia pesa no bolso (1 litro de água mineral custa 10 mil vezes mais que o de água potável) e prejudica o meio ambiente. De acordo com o jornal britânico The Guardian, só em 2016 o mundo comprou mais de 480 bilhões de garrafas plásticas de água. E apenas 7% delas encontraram uma segunda vida como garrafas novas. O documentário Águas Turbulentas, capítulo da série Rotten, da Netflix, também traz informações preocupantes ao mostrar os bastidores da indústria de água engarrafada e seus danos irreversíveis ao meio ambiente.
Excesso de sódio
Apesar de ser um produto que as pessoas costumam comprar de olhos fechados, tamanha a confiabilidade, alguns aspectos devem ser observados. Dependendo da marca, a água mineral pode ter sódio em quantidades maiores que o recomendado (confira alguns rótulos no final da matéria) – componente que, consumido em excesso, oferece o risco de hipertensão, pedras nos rins e insuficiência renal. E, nesse ponto, o consumidor está desamparado. “Não há um controle oficial sobre os componentes minerais existentes na água engarrafada”, afirma o geólogo Luiz Fernando Scheibe, professor da Universidade Federal de Santa Catarina com pós-doutorado em hidrogeologia. Há apenas uma regra para manter o pH entre 7 e 10. O ideal é que o pH, em temperatura ambiente (25º C), seja igual ou maior que 7, o que significa que a água é alcalina. Abaixo de 6, a água é ácida – e um organismo com pH ácido abre portas para doenças.
Ainda existe o perigo de contaminação. Ao ser retirada da fonte, a água precisa ser engarrafada e armazenada em local fresco e arejado. Do contrário, pode ser infectada por bactérias e se tornar imprópria para o consumo. Além da exposição à luz e ao calor, o transporte e o tempo de prateleira também comprometem a qualidade da água. Por isso, muitas vezes, optar pela água filtrada é até mais saudável. Você ainda ajuda a reduzir o lixo plástico – a cada 200 galões de água (20 litros cada um), 8 mil garrafinhas de 500 mililitros deixam de ser produzidas – e contribui para diminuir o gás carbono emitido no transporte. Mas é importante que a água passe por um sistema de filtragem eficiente.
Filtro e purificador: qual a diferença?
Um bom filtro retém as partículas de barro, areia e outros sedimentos que possam estar presentes na água. O InMetro (Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia) classifica os sedimentos de A a F, sendo os filtros de melhor desempenho aqueles que oferecem a retenção de partículas de classe A (alguns modelos de barro estão nessa lista).
Já o purificador de água, além de reter partículas, reduz cloro residual e equilibram o pH, sem o excesso de sódio. E, por terem carvão ativado, deixa a água insipida, inodora e incolor. Alguns modelos também são capazes de eliminar bactérias, mas observe o selo do InMetro portaria 344 – é a garantia de que o aparelho oferece tudo o que promete.
Se você optar por um purificador com opção de água gelada, prefira um modelo com menor consumo de energia em kWH/mês e eficiência energética por litro de água refrigerado. E não se apegue aos modelos sofisticados. “Eles não estão necessariamente relacionados a uma maior eficiência na purificação. Muitas vezes é só uma questão de design”, explica Manuella Curti, presidente da Purificadores de Água Europa. Ah, um alerta: os filtros e purificadores são desenvolvidos para receberem água previamente tratada pela estação concessionária da cidade, como a Sabesp, em São Paulo.
Você costuma fazer manutenção periódica no filtro ou purificador? É importante para assegurar a eficácia do tratamento da água e, consequentemente, da sua saúde. O ideal é seguir as recomendações do fabricante, que estipula a troca dos elementos filtrantes e de purificação depois de uma determinada quantidade de litros usados, o que varia de acordo com a marca.
Posso beber água da torneira?
A água tratada pela Sabesp, concessionária responsável pelo abastecimento na cidade de São Paulo, atende o padrão de potabilidade estabelecido na legislação federal, segundo a química Izabel Cristina de Ernesto, gerente do Departamento de Controle de Qualidade da empresa. Significa que a água que chega na torneira das casas que dispõem de água tratada não apresenta microrganismos e metais pesados (cádmio, chumbo, cobre, cromo e mercúrio) nocivas ao organismo.
Outra informação que nem todo mundo sabe é que a água potável segue o padrão de qualidade estabelecido pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) e tem propriedades minerais que são mantidas tanto no processo de filtragem como de purificação. Mesmo assim não é recomendado que você beba a água diretamente da torneira. Além do flúor, a Sabesp adiciona cloro para combater as bactérias. “E o cloro é tóxico para o ser humano”, alerta a nutricionista Carolina Gimenez, de São Paulo, que sugere usar a água purificada até mesmo para lavar as frutas e verduras.
E os agrotóxicos na água? Essa é um outro problema grave e difícil de ser solucionado. “Algumas regiões agrícolas do país já apresentam esse tipo de contaminação. Mas, mesmo que as pessoas passem a comer apenas orgânicos, os defensivos químicos usados nas plantações de soja e milho, direcionadas para a criação animal, continuarão oferecendo esse risco”, alerta a engenheira química Sônia Hess, também professora da Universidade de Santa Catariana.
Optar pela água mineral na tentativa de fugir do problema dos agrotóxicos, segundo o geólogo Luiz Fernando Scheibe, é deixar de atuar como cidadão. “É importante que a população cobre uma água de qualidade da empresa responsável pelo abastecimento”, reforça Luiz. Ele sugere que as pessoas, paralelamente à redução do consumo de alimentos produzidos com agrotóxicos, também mantenham a caixa d’água de suas casas limpa para reduzir o risco de contaminação e o acúmulo de cloro e poluentes. Além de sempre filtrar a água antes de matar a sede.
COMPARE OS RÓTULOS
São Lourenço
Composição Química (mg/L): Bicarbonato 286,73, Nitrato 1,50; Potássio 31,346; Cálcio 28,169; Sódio 36,040; Magnésio 12,491; Bário 0,408; Sulfato 2,17; Fluoreto 0,15; Estrôncio 0,063
pH a 25°: 5,25
Bonafont
Composição Química (mg/L): Bicarbonato 7,53; Nitrato 4,53; Potássio 1,669; Cálcio 1,402; Sódio 1,212; Magnésio 0,586; Cloreto 0,58; Bário 0,065; Sulfato 0,06; Fluoreto 0,05
pH a 25°: 6,16
Gourmet Life
Composição Química (mg/L): Bicarbonato 27,65, Nitrato 1,31; Potássio 3,910; Cálcio 6,360; Sódio 0,412; Magnésio 0,731; Bário 0,051; Sulfato 0,60; Fluoreto 0,03.
pH a 25°: 7,00
Crystal
Composição Química (mg/L): Bicarbonato 105,81; Nitrato 0,03; Potássio 2,300; Cálcio 4,720; Sódio 34,400; Magnésio 0,941; Bário 0,147; Sulfato 1,56; Fluoreto 0,93; Estrôncio 0,046; Brometo 0,01
pH a 25°: 7,36
Minalba
Composição Química (mg/L): Bicarbonato 98,57; Nitrato 0,20; Potássio 1,024; Cálcio 16,107; Sódio 0,924; Magnésio 9,076; Cloreto 0,11; Bário 0,021; Sulfato 0,13; Fluoreto 0,05, Estrôncio 0,019
pH a 25°: 8,10
Prata
Composição Química (mg/L): Bicarbonato 68,00; Nitrato 1,30; Potássio 3,520; Cálcio 11,700; Sódio 2,900; Magnésio 5,390; Cloreto 0,61; Bário 0,060; Sulfato 3,88; Fluoreto 0,27, Estrôncio 0,141