Proteção Animal

A POLÊMICA DAS GALINHAS EM GAIOLAS

ENTENDA POR QUE ESSE SISTEMA DEVE ACABAR


Helen Almeida | Oct 30, 2019

Expectativa: galinhas criadas soltas e felizes – desejo até mesmo dos brasileiros que ainda consomem alimentos de origem animal e derivados, como leite e ovos. Realidade: galinhas confinadas em “gaiolas de bateria” – sistema de produção usado pela indústria de alimentos para atender a demanda e obter o lucro desejado. Ele culmina no sofrimento das aves e, por isso, é proibido em toda a União Européia, mas segue ativo em outros países do mundo, e o Brasil é um deles.  


Em território brasileiro, cerca de 200 milhões de galinhas são criadas em gaiolas minúsculas, segundo a organização de proteção animal Mercy For Animals. Um sistema que impede de as aves abrirem as asas, receber luz direta do sol, ciscar, andar ou mesmo pisar no chão, já que ficam sobre o aramado das gaiolas do começo ao fim da vida. 

Não bastasse a crueldade, ainda bebês, elas têm os bicos cortados e, por causa da falta de espaço e superpopulação (em cada gaiola são colocadas até 12 galinhas), sofrem lacerações ou têm membros mutilados ao longo a vida. Muitas delas morrem e entram em decomposição no mesmo espaço onde as outras botam os ovos para consumo humano. 

AÇÕES CONTRA O CONFINAMENTO

Diversas organizações e ativistas ao redor do mundo se uniram para exigir que grandes redes alimentícias parem de comprar ovos dos produtores que mantêm as galinhas presas em gaiolas. O movimento está obtendo sucesso em diversos países. Nos EUA, centenas de marcas, mesmo as que têm atuação global, se comprometeram com a causa. Outro exemplo de sucesso é o México, onde empresas como McDonalds, PepsiCo e Starbucks também assumiram o compromisso de não comprar ovos vindos de galinhas criadas de maneira cruel.

Felizmente, a mesma campanha está obtendo sucesso no Brasil. Mais de 100 empresas já anunciaram mudanças em suas políticas de manejo. Em 2018, o Carrefour, líder de mercado, foi o primeiro varejista a comunicar o compromisso de não comprar ovos vindos de galinhas confinadas. Burger King, McDonalds, Walmart e a Unilever também foram tocadas pela ação. 

Toda essa mobilização também tem conscientizado o consumidor. “As pessoas ficam surpresas quando descobrem como os animais são tratados na indústria. E a maioria não concorda com os maltratos. Acham que as galinhas deveriam ser criadas soltas”, diz Eduarda Nedeff, diretora de políticas corporativas da Mercy For Animals, uma das organizações que encabeça essa luta. Em uma ação recente em praça pública, a ONG atraiu o público para dentro de um container onde estavam sendo exibidos vídeos de galinhas confinadas pela indústria. Isso fez muita gente aderir uma campanha que cobra a mudança de postura do Grupo Pão de Açúcar, que compra a maior parte dos ovos comercializados nos supermercados Pão de Açúcar, Extra, Assaí e Compre Bem, de galinhas confinadas. 

Se o GPA recusar esse sistema de criação, a estimativa da Mercy é de que até 5,7 milhões de aves sejam beneficiadas. Mas a empresa ainda não se manifestou favoravelmente a esse respeito. ‘‘O Grupo Pão de Açúcar tem o poder de ajudar a mudar essa realidade ao anunciar o compromisso de parar com a compra de ovos dessa procedência para todas as suas operações no Brasil”, diz Sandra Lopes, diretora executiva da Mercy For Animals no Brasil. 

Esse não é o principal objetivo da Mercy For Animals, um grupo que luta para construir um futuro vegano, sem nenhum tipo de crueldade animal. Mas, sabendo que a população não vai se tornar vegana de um dia para o outro, a ONG considera a luta contra as gaiolas um primeiro passo para o bem das aves. “Sempre reforçamos que sem gaiola não significa sem crueldade. Porém, como a urgência agora é diminuir o sofrimento das galinhas confinadas, estamos lutando para que elas não sejam criadas dessa forma. Mas a nossa grande missão é o fim da exploração animal”, ressalta Eduarda.

“OVO" VEGANO

Paralelamente às ações contra o confinamento das galinhas, há organizações trabalhando ativamente para criar alternativas vegetais para substituir os ovos, como é o caso do The Good Food Institute (GFI). “Nosso trabalho é criar um novo sistema de produção em que não será mais necessário usar as técnicas atuais”, explica Gustavo Guadagnini, managing director do GFI no Brasil. “Se for possível, vamos  desenvolver opções vegetais gostosas para substituir os ovos de galinha, e que estejam no preço certo. Com isso, as mudanças no sistema atual vai acontecer naturalmente.”

Antes disso, você pode ajudar o movimento contra as galinhas confinadas assinando e ajudando a divulgar a petição ao Grupo Pão de Açúcar. Também existe a possibilidade de comprar ovos apenas em  locais que optaram por fornecedores que criam as galinhas sem maltratos. E, se desejar ir além, substituta o ovo por alimentos fonte de proteína vegetal.