Ainda tem chão para a vacinação contra a Covid-19 acontecer em massa e a cura da doença nem é cogitada. Portanto, o melhor a fazer é continuarmos adotando as medidas de proteção (usar máscara, manter distanciamento, higienizar as mãos) e cuidarmos muito bem do nosso trato gastrointestinal, cujas funções vão além da digestão e absorção dos nutrientes. O trato gastrointestinal abriga trilhões de micro-organismos, como bactérias, vírus, fungos que, juntos, formam a microbiota intestinal.
E o que a microbiota intestinal tem a ver com a Covid-19? Uma pesquisa publicada este ano na revista científica The Lancet mostrou que existe uma conexão clara entre a gravidade dos sintomas da infecção provocada pelo coronavírus e a saúde da microbiota intestinal. Pessoas que apresentam a microbiota em desequilíbrio e a integridade da mucosa intestinal prejudicada, ficam mais vulneráveis aos sintomas mais graves da doença. Isso responde porque pessoas idosas e aquelas que sofrem com doenças crônicas como diabetes e obesidade fazem parte do grupo de risco para a Covid.
A microbiota intestinal de uma pessoa adulta saudável é relativamente estável até os 65 anos, quando começa a ocorrer uma alteração na composição, conhecida como disbiose associada à idade. Porém, ainda não está claro se é consequência dos mecanismos de envelhecimento ou de mudanças no estilo de vida (uso de medicamentos, atividade física reduzida e alterações na dieta e no sono ou ritmos circadianos), uma vez que a disbiose também ocorre em pessoas jovens.
O fato é que a disbiose aumenta os gêneros de bactérias pró-inflamatórias e reduz as bactérias responsáveis pela produção de ácidos graxos de cadeia curta (SCFAs da sigla em inglês), substâncias consideradas imprescindíveis para a modulação da resposta imunológica. Estudos recentes mostraram que a microbiota intestinal também influencia no metabolismo e, consequentemente, na suscetibilidade a infecções, além de câncer e doenças neurodegenerativas.
Principais funções da microbiota
Dentre as inúmeras funções da microbiota, as principais contribuições para a nossa saúde são:
*Estímulo do sistema imunológico.
*Digestão e fermentação de carboidratos
*Participação na produção de vitaminas e enzimas.
*Produção de neurotransmissores.
*Produção de componentes necessários para a renovação celular dos tecidos linfoides associados ao intestino.
*Controle na proliferação de bactérias patogênicas presentes no trato intestinal.
O poder da alimentação
A alimentação é a principal ferramenta que nós temos para oferecer os substratos fermentáveis necessários para a saúde da nossa microbiota intestinal. Considero o padrão alimentar mediterrâneo o mais eficiente na modulação da microbiota intestinal, uma vez que inclui um alto consumo de carboidratos complexos, fonte de substratos fermentáveis responsáveis pela formação dos ácidos graxos de cadeia curta, além de fitoquímicos com ações prebiótica e anti-inflamatória.
Outro ponto positivo da alimentação mediterrânea é preconizar um baixo consumo de gordura saturada e proteína animal (as carnes e lácteos promovem uma redução das bactérias benéficas no intestino). O consumo de alimentos industrializados, ricos em aditivos e carboidratos refinados, como açúcar e doces, também é reduzido.
Para uma alimentação nesse padrão, é importante:
*Variar os alimentos, dando preferência para o consumo de vegetais e frutas, principalmente frutas vermelhas
*Preferir as gorduras vegetais não processadas como azeite de oliva extravirgem e óleo de abacate extravirgem.
*Consumir apenas lácteos fermentados e, mesmo assim, com moderação.
*Incluir no cardápio diário sementes e oleaginosas e sementes; grãos integrais não processados.
*Reduzir a proteína animal e priorizar peixe, no caso das pessoas não vegetarianas.
*Laís Murta é nutricionista especializada em nutrição funcional.