Saúde

O SUFOCO DAS QUEIMADAS NA FLORESTA AMAZÔNICA

ESPECIALISTAS ALERTAM OS PERIGOS DA FUMAÇA PARA A SAÚDE RESPIRATÓRIA


Helen Almeida | Aug 29, 2019

As queimadas descontroladas na área brasileira da Amazônia ultrapassam 25 dias de um incêndio que supera a média histórica do mês. Além da morte de diversos animais, inclusive aqueles que correm risco de extinção, da destruição irrecuperável do solo e da perda inestimável da flora, problemas respiratórios já afetam a população que vive próxima às regiões atingidas pelo fogo.  

Por causa da fumaça, triplicou o número de pessoas em busca de atendimento nos hospitais locais. Os sintomas vão desde coriza, tosse, catarro, olhos irritados e garganta seca até crise de asma, bronquite e infecções respiratórias. “Os danos à saúde são similares àqueles apresentados por quem se expõe de maneira crônica a um ambiente poluído; ou por quem tem o hábito de fumar ou mesmo pelo fumante passivo, que sofre as consequências apenas pelo fato de estar ali, inspirando a fumaça”, explica a pneumologista Fátima Chibana, professora de medicina nas Universidades Católica do Paraná (PUCPR) e Estadual de Londrina (UEL). 

O também pneumologista Andrei Augusto Cordeiro, chefe do serviço de Pneumologia do Hospital Santa Paula, em São Paulo, fala do perigo para as mulheres grávidas que moram em regiões vizinhas à floresta em chamas. A alta exposição à fumaça das queimadas pode levar à restrição do crescimento intrauterino do feto e aumentar o risco de prematuridade ou de baixo peso do recém-nascido. “Em situações extremas, pode, inclusive, ocorrer morte fetal”, afirma o médico. 

Dificuldade de respirar 

Algumas cidades da região sudeste do país sentiram o peso da fumaça vinda da Amazônia há cerca de 15 dias, quando o “dia virou noite”. O material particulado da queima de biomassa, somado à fuligem, foi incorporado às nuvens e alcançou São Paulo e Minas Gerais. Não houve um levantamento relacionando esse episódio ao aumento de doenças respiratórias nesses dois estados. Mesmo assim, Andrei acredita que isso trouxe consequências para a saúde da população, especialmente no caso das pessoas mais suscetíveis, como crianças, idosos e portadores de bronquite e asma. “Nesse tipo de fumaça há partículas de enxofre e nitrogênio que se ligam ao oxigênio e formam substâncias ácidas que, precipitadas com a chuva (a chamada chuva ácida), aumentam a dificuldade de as pessoas respirarem, além de desencadear problemas de pele, ardência nos olhos e alterações no olfato”, afirma Fátima. Ou seja, até mesmo quem mora a milhares de quilômetros da Amazônia tem sentido o sufoco dos incêndios na floresta.    

Medidas de proteção

Perto ou longe das queimadas, o pneumologista recomenda aumentar os cuidados com a hidratação. Beba bastante líquido, principalmente de água. Quem está próximo às áreas atingidas pelo fogo, deve proteger a boca, o nariz e os olhos com um pano úmido até poder deixar o local. O ideal é que as pessoas se afastem das áreas com queimadas para proteger a saúde e como medida de segurança, já que a mudança de direção do vento oferece riscos. Em regiões com a qualidade do ar ruim, a prática de atividade física deve ser suspensa, pois os níveis elevados de poluentes pode reduzir a função pulmonar e vascular de forma aguda. E os portadores de alguma doença respiratória crônica devem redobrar os cuidados como estes, de poluição atmosférica intensa, além de manter o acompanhamento periódico com um pneumologista. “Apenas um profissional qualificado pode ajudar a estabilizar a doença e diminuir a incidência de exacerbações”, finaliza Andrei.