Crianças Veg

INTRODUÇÃO ALIMENTAR PARA BEBÊS VEGETARIANOS

Novo Guia traz orientações para uma alimentação sem carne


Luna Azevedo | Nov 22, 2019

Motivados pelo respeito e compaixão aos animais, muitas pessoas se tornam vegetarianas e estendem a dieta sem carne (ou nenhum derivado animal) aos filhos, e tudo bem. A base para a introdução alimentar vale igualmente para todas as crianças, independentemente de serem vegetarianas ou não. De qualquer maneira, existem muitos questionamentos dos pais e familiares. Afinal, os pequenos precisam de uma boa base alimentar para um bom desenvolvimento. Então, vamos lá. Segundo a ADA (American Dietetic Association), a alimentação vegetariana é compatível com todas as fases da vida, além de atuar na prevenção de diversas doenças. Além disso, um acompanhamento nutricional para monitorar o crescimento e desenvolvimento da criança pode mostrar se a alimentação oferecida está correta. 

Para tranquilizar ainda mais os pais, o Ministério da Saúde acaba de lançar o Novo Guia Alimentar para Crianças Brasileiras Menores de 2 anos com contribuição científica da Sociedade Vegetariana Brasileira. A publicação afirma que até os 6 meses de idade, o bebê deve ser alimentado exclusivamente com leite materno. Não é preciso oferecer nada mais, nem sequer água, chá, suco, água de coco ou papinha. O leite materno tem água suficiente para hidratar a criança de maneira eficiente até mesmo nas estações mais quentes. Outra confirmação do Guia é que a amamentação pode ser estendida até 2 anos ou mais. Porém, a partir da introdução alimentar, no sexto mês, o leite deve ser intercalado com outros alimentos, de maneira gradual. Regra válida para bebês vegetarianos ou não. 

Na primeira semana da introdução alimentar, a recomendação é oferecer apenas frutas no período da manhã; na segunda semana, frutas também à tarde. Na terceira semana, é incorporado o almoço e, na quarta, o jantar. A partir disso, o almoço e o jantar passam a ser obrigatórios. E, para que as refeições vegetarianas ofereçam todos os nutrientes necessários, o Novo Guia Alimentar Para Crianças Brasileiras Menores de 2 anos, recomenda os pais incluírem diariamente, no almoço e jantar:

1 alimento do grupo dos cereais (arroz, milho, aveia) ou do grupo de tubérculos e raízes (beterraba, cenoura, inhame, batata-doce)

1 alimento do grupo das leguminosas (feijão, lentilha, grão-de-bico, ervilha) ou mais alimentos do grupo dos legumes e verduras, sendo 1 vegetal folhoso verde-escuro (couve, espinafre, agrião, alface roxa) e 1 legume colorido (abóbora, chuchu, pimentão, tomate)

1 fruta (o ideal é escolher uma opção rica em vitamina C para aumentar a absorção do ferro da refeição)

Não vai faltar ferro e B12?

Entre as dúvidas dos pais, a mais comum é como conseguir o aporte adequado de ferro, cálcio, zinco, vitamina B12 e proteínas. Tudo depende do planejamento alimentar. As frutas são essenciais nos lanches intermediários e, nas refeições principais, não podem faltar opções correspondentes aos grupos alimentares citados acima. Mas vamos retomar os nutrientes que mais preocupam os vegetarianos. 

Proteínas

Porções adequadas de leguminosas (feijão, lentilha, grão-de-bico) e cereais (arroz, aveia) são suficientes para atingir a recomendação diária de proteína.   Servidos juntos, esses dois grupos de alimentos se complementam, já que os cereais são ricos nos aminoácidos metionina e as leguminosas em lisina. Além disso, estudos publicados pelo departamento de pesquisa da Universidade de Oxford, na Inglaterra, afirmam que as proteínas vegetais contêm diversos benefícios relacionados às fibras alimentares e, por isso, atuam na prevenção de doenças crônicas, como hipertensão, diabetes e obesidade.

Ferro

Até mesmo na dieta vegetariana estrita (exclui qualquer alimento de origem animal, até mesmo ovo e mel), o ferro pode ser obtido a partir dos vegetais verdes escuros (couve, brócolis, espinafre) e das leguminosas (feijão, lentilha, ervilha). Mas é importante saber que existem dois tipos desse mineral, o ferro heme, de origem animal (apresenta maior biodisponibilidade) e o não-heme, dos vegetais (menor biodisponibilidade). Por isso, para garantir uma maior absorção, é importante acrescentar uma fruta fonte de vitamina C (caju, acerola, laranja, kiwi) no almoço e jantar. Outra estratégia importante é fazer o remolho das leguminosas. Consiste em deixar os grãos mergulhados na água filtrada de 8 a 12 horas e, se possível, trocar a água de duas a três vezes e, na hora de cozinhar, colocar uma nova água. Esse processo elimina fatores antinutricionais presentes nos grãos que dificultam a absorção de nutrientes, especialmente ferro e zinco. 

Cálcio

O leite materno oferece uma boa dose de cálcio para a criança. Depois, o mineral  pode ser obtido a partir de alimentos como brócolis, couve, espinafre e grão-de-bico. Para aumentar a absorção do cálcio, uma medida eficiente é garantir a presença da vitamina D no organismo, o que, para os veganos, pode ser feito com a exposição à luz solar ou suplementação. 

Zinco

É um mineral muito importante para o crescimento e desenvolvimento infantil. As fontes de zinco, no caso da alimentação vegetariana, são os grãos integrais, castanhas e feijões. 

Ácidos-graxos essenciais

Para complementar, é preciso mencionar os ácidos-graxos essenciais, já que eles têm um papel importante no crescimento e desenvolvimento cerebral da criança. O ômega-3 está presente em maiores concentrações nas sementes de chia e linhaça, e o ômega-6 em sementes de girassol e gergelim, nozes, castanhas e alguns óleos (milho, girassol, soja). 

MAMÃES BEM NUTRIDAS

Não existem diferenças significativas na composição do leite produzido por mães vegetarianas ou onívoras. Porém, toda lactante deve buscar orientações nutricionais para fazer adequações na alimentação para que seu leite possa fornecer os principais nutrientes (as vitaminas A, D, E, K, C e o complexo B) para o desenvolvimento do bebê.  

No período de amamentação exclusiva, o aporte de B12 também é obtido a partir do leite materno. Mas, como se trata de uma vitamina encontrada apenas em alimentos de origem animal, as mães vegetarianas, em especial as estritas, precisam recorrer à suplementação. Se, por algum motivo, a introdução de fórmulas no lugar do leite materno for necessária, existem opções veganas à base de arroz que disponibilizam B12. 

Os de ômega-3 também são mais baixos em mães vegetarianas estritas, ainda que superiores aos níveis encontrados nas fórmulas infantis. Portanto, elas devem reforçar o consumo de alimentos fonte de ômega-3, presente nas nozes, na linhaça e chia, assim como nos óleos dessas sementes.  

*LUNA AZEVEDO é nutricionista materno infantil, atuante em alimentação vegana e vegetariana.